Noel Gallagher: maior que o Oasis
Começo este artigo com um breve alerta aos fãs do rock básico do Oasis: caso não tenham gostado das inovações que envolvem saxofones, pianos e instrumental na introdução de boa parte das músicas do novo álbum do Noel Gallagher & The High Flying Birds “Chasing Yesterday”, preparem-se, porque provavelmente também não irão gostar dos próximos discos dele.
Próximos álbuns de Noel? Deus me livre: o Oasis há de voltar!
Bom, acompanho a carreira dos caras desde 1991 e realmente não acredito que o Oasis irá voltar – a não ser por dinheiro e para eventuais apresentações – mas explico: estava tudo escrito.
Graças ao relacionamento turbulento com o irmão Liam e a segurança de fazer parte de uma das maiores bandas do mundo – com pelo menos dois álbuns consagrados pelo público e pela crítica (“Definately Maybe” e “What’s the Story: Morning Glory”) – pode parecer que a carreira solo de Noel não foi planejada, e sim uma decisão tomada, para parafrasear uma das músicas do “Chief”, in the heat of the moment, mais precisamente assim que Liam arremessou uma guitarra contra a cabeça de Noel no backstage do fatídico último show em 2009.
Na verdade, foi tudo planejado. Se você relaciona a trajetória de Noel com a de dois dos seus maiores ídolos vivos, Johnny Marr e Paul Weller, logo enxerga as similaridades que comprovam a afirmação:
Johnny Marr:
Johnny Marr foi guitarrista de uma das maiores bandas dos anos 80, The Smiths, responsável por dar forma e vida às letras soturnas de Morrissey. Já participou de várias bandas do cenário alternativo, inclusive de apresentações do Oasis. Hoje em dia, Marr entrou com tudo na carreira solo com 2 álbuns lançados – nos quais desempenha inclusive os vocais, sem decepcionar – e turnês mundiais.
Paul Weller:
Paul Weller foi o vocalista, guitarrista e líder de uma das maiores bandas de mod-rock dos anos 70, o The Jam, um estilo venerado por Noel. Com o fim do The Jam, em 82, Weller empreendeu uma carreira solo com toques de soul rock, vindo a lançar o clássico “Stanley Road” que tanto influenciou o Oasis. Hoje vizinho de porta de Noel, a dupla Weller-Gallagher já participou de várias apresentações ao vivo.
Paul Weller já superou o The Jam se consolidou com um dos grandes nomes da música britânica. Johnny Marr, porém, vive sobre a sombra dos Smiths (ainda mais quando todos os fãs questionam se existirá uma reunião entre ele e Morrissey), mas aos poucos agrega o atributo de front man aos de letrista e guitarrista genial.
Atrás deles vem Noel que, apesar de não ser capaz de fazer estripulias vocais, tem um repertório e uma formação musical como nenhum outro artista, capaz de incorporar às suas canções as mais diversas referências, como um verdadeiro connoisseur do rock. Ser um músico mencionado por Noel – ainda que em forma de xingamento, o que é mais comum – é equivalente a receber mídia de graça, que o diga, recentemente, Ed Sheeran:
‘I can’t live in a world where Ed Sheeran is headlining Wembley’
Voltando ao “Wall of sound” (licença, Phil Spector) erigido neste brilhante “Chasing Yesterday” para os quais fãs xiitas torcem o nariz na eterna espera por uma nova “Don’t look back in anger”, posso dizer que o rock instrumental cheio de flertes ao soul de “Stanley Road” e à primeira fase do The Verve – mais forte em “The Right Stuff” – é nada mais do que um ponto no caminho que estava por ser trilhado por Noel, como já acusavam álbuns do Oasis como “Dig out your soul”, e principalmente os lados b de diversos singles. Para quem está destinado a ser um verbete no cancioneiro britânico, ao lado de Weller, Marr e mesmo Paul McCartney, manter o sonho de criança chamado Oasis vivo é muito pouco.
E então? Você já ouviu “Chasing Yesterday”? Curtiu? Conta pra nós suas impressões nos comentários!