Devise: “Petricor” faixa a faixa
Em primeiro lugar, não dá para falar no segundo álbum da Devise, “Petricor”, sem antes destrinchar a personalidade tímida, generosa e empreendedora do seu líder, Luís Couto, um jovem de 28 anos fanático por Oasis e Cruzeiro (não necessariamente nessa ordem).
“São João foi fundamental pra minha vida na música, ali tudo desabrochou. Formei e voltei pra BH. Hoje administro a empresa que meu pai fundou que é ligada à FGV. Por isso divido minha semana entre três cidades (BH, Bom Despacho e Divinópolis). Sim, moro em 3 casas diferentes”. Luís Couto
Mas volto a meados de 2016, quando me lembro bem desse moço me “cobrando” a versão online da entrevista da Devise que havia saído na Inconfidência. Foi então que eu também saquei o valor documental desse site para artistas que aguardam oportunidades na mídia convencional. E com o lançamento de “Petricor”, nada mais justo do que convocar o próprio vocalista/guitarrista da Devise para fazer um faixa a faixa desse trabalho.
Sobre Petricor
O álbum “Petricor” foi feito literalmente na raça, sem projetos de lei ou crowdfunding, o que torna o trabalho final ainda mais louvável, pois foi produzido essencialmente a partir da grana de shows, um dinheiro que saiu do próprio cachê dos músicos. A banda também participou do Converse Rubber Tracks, que “bancou” 2 dias de estúdio.
“Petricor”, na explicação de Couto, é um termo bastante comum no interior. É um sinal da natureza para a chuva que se aproxima. Assim como a Devise se aproxima do mainstream do rock nacional, trabalho após trabalho. A Devise é um sopro de criatividade em um cenário em que os medalhões do rock não mais produzem algo 100% original e revolucionário.
Luís Couto, como todo bom mineiro introspectivo e cauteloso, sabe muito bem que comer pelas bordas é a melhor política para se chegar ao topo. E é isso que ele faz, ao apostar na sensibilidade de uma horda de fãs de Oasis esquecidos pela grande mídia por meio de uma parede de guitarras cuspindo riffs que eventualmente dialogam entre si, algo que o Oasis fez tão bem no derradeiro “Dig Out Your Soul” de 2008.
Além de selecionar com mão de ferro suas referências, Couto age nos bastidores como um manager da Devise e um mecenas local, indicando bandas irmãs para entrevistas e sempre estabelecendo contato com a mídia e empresários. Não por acaso, a banda é hoje presença garantida em vários eventos e festivais, apesar de todas as dificuldades naturais da cena.
Álbum enxuto, com 8 faixas gravadas em vários estúdios, “Petricor” é Oasis do início ao fim, embora o próprio vocalista aponte outras influências também reconhecíveis na sonoridade. Esse é o triunfo, mas também não deixa de ser a zona de segurança da Devise em 2017, que ainda precisa se sujeitar à execução de covers para lotar casas de show e vender cerveja, assim como a maioria das bandas autorais vivendo em BH.
Luís – que tem no nome 4 letras, assim como Liam – divulga um som honesto, feito com paixão – porém, ainda carece da pitada de porra-louquice e irresponsabilidade que fez a carreira do ex-vocalista do Oasis. Falta sujeira nos vocais de Couto, ou simplesmente a auto-percepção de que a Devise é muito foda mesmo, e daí?
Mas enquanto Luís Couto não joga a televisão pela janela do hotel ou taca uma ameixa na cara de um dos integrantes da banda, a Devise vai conquistando com glamour a parcela de fãs desamparada com o gap gerado pelo Skank pós-Maquinarama/Cosmotron e, claro, pela extinção do Oasis. O Petricor, aqui, anuncia que um gigante dos palcos está prestes a dominar o Brasil.
Faixa a Faixa de “Petricor” por Luís Couto
1. Canção Pro Vento
2. Bodatista
3. Indra
Tivemos que ralar um pouquinho pra fazer esse som soar legal em português. Não foi fácil, um dos grandes desafios do “Petricor”, mas acho que ficou legal.
Filha do Black Rebel Motorcycle Club com Oasis, duas bandas que estão na minha lista de favoritas. Gosto bastante da linha de baixo e do timbre, com certeza dos melhores do disco. Conseguimos sons legais pras guitarras também. Muito fuzz pro Bruno (Mike) com a Les Paul em um Rockverb e foi a primeira vez que usamos um pedal oitavador em uma música nossa. Pra guitarra base usei uma semi acústica, um RAT no talo (muito mesmo) e um AC30 com umas regulagens que gosto. Nada mais.
Ninguém nunca comentou isso e podem achar que não tem nada a ver, mas gostar de Blur foi fundamental pra conseguir fazer essa música! E essa letra é um mistério por hora irrevelável, mas dá pra pensar umas teorias.
4. Qualquer Hora
Primeira música que escrevi pra esse disco e talvez por isso ela seja um elo tão importante na nossa história. Acho que ela tem elementos fortes das nossas duas “fases” e assim nos apontou alguns caminhos pra escrever esse segundo disco. É a música mais “limpa” em termos de mixagem (gravamos e mixamos em um estúdio diferente das demais músicas) e eu gosto disso porque ela nos tira um pouco de uma mesma estética, chamando atenção pra outros pontos da banda.
Vejo bastante influência de Hives, Strokes, Kilians (banda alemã que ouvi um bom tempo) e Skank, essa última abriu o horizonte quando só existia o riff de baixo e bateria. Eu acho que tem uma coisa meio Frusciante também. A gente é fã dele, solo e no RHCP. Acho que a letra é divertida e rancorosa, irônica também, gosto disso em letras.
5. O Que Vier
6. 27
7. Por Perto
8. Oito Passos
E aí, curtiu Petricor? Deixe sua opinião sobre o álbum nos comentários!