Erwins+ Roboto+Lobos de Calla: é tudo sobre amizade

Erwins+ Roboto+Lobos de Calla: é tudo sobre amizade

erwins

Ao ir embora da Rua Pampas, no último sábado (3-3-18), tive uma visão. Não, não era apenas o Batata – o guitarrista onipresente do Elizia – que subia a rua deserta para um fechamento triunfal de uma noite que ficará marcada nos anais da cena alternativa de BH.

É que eu me vi 10 anos depois daquilo tudo que estava acontecendo. E fiquei tentando descobrir onde estarão, em 2028,  nomes como Lobos de Calla, Roboto, Erwins, Evil Matchers, KKFOS e Radiotape?

Será que se tornarão apenas uma breve memória de um rock feito com prazer, de graça, na base da ajuda técnica mútua, em bares legais?

Tentei não ser pessimista e imaginei que boa parte daqueles caras certamente estará no mainstream, lotando estádios e estrelando festivais. Ricos, ainda mais felizes e, principalmente, vivendo unicamente do bom e velho rock and roll.

Afinal, absolutamente todas as bandas citadas aqui têm escopo para tanto. E o que é melhor: também possuem carisma e senso de união, como tão bem registrado na foto principal desse post. A felicidade por estarem unidos e, mais do que isso, por se admirarem uns aos outros. Então, o fato de que todas ainda morem e respirem no underground, mesmo com o apoio de casas noturnas e parte da mídia, permanece um mistério.

Mas deixemos as indagações de lado e vamos ao que interessa: o melhor som autoral já produzido em muito tempo nas Gerais. Calaveras Bar, dia 3 de março de 2018. Eu estava lá. E você?

Erwins – menores e felizes

Com “apenas” 2 integrantes, o Erwins consegue resumir o que realmente importa no rock: boas canções, atitude e, claro, diversão. Com um set list imenso (veja abaixo) para uma banda que possui só um EP “A tragédia dos comuns”, o Erwins é sangue, suor e gentileza em cerca de 40 minutos.  E não se deixe enganar pelo jeito ogro e barbado de Bruno, vocal/guitarra/baixo. O cara, além de talento para criar críticas sociais em forma de pestanas, tem a virtude da empolgação e humildade (inclusive na hora em que foi questionado sobre falhas na voz por um dos espectadores).

erwins

 

“Perdido no soul”, escrita sobre as manifestações de 2013, é, por assim dizer, o grande hit do Erwins. Misturando inglês e português, contando com acordes e trocadilhos que grudam na cabeça, a música é praticamente a bandeira do Erwins: tirar todo mundo do comodismo e da alienação e mostrar que dá para fazer muita coisa boa em padrões diferentes do convencional.

Muito prazer em conhecê-los, Erwins, vocês não devem ter se dado conta, mas ao abrir para Roboto e Lobos de Calla, foram o elemento que deu liga à noite de 3 de março, revelando que, antes de tudo, a cena se trata de entretenimento e curtição, independente do porte, história e experiência de cada banda.

Veja a performance de “Perdido no soul” do Erwins:




Roboto: mais instrumentais do que nunca

roboto

Aqui estamos em mais um, mais um, mais um show da Roboto. Se dominar o mundo equivalesse a números de shows, Roboto seria o Godzilla da cena mineira. Como se não bastasse, estão melhores e mais audaciosos a cada ocasião. No set list do Calaveras, algo chamou a atenção: nem sinal de “Se ao menos”, o “Perdido no Soul” da Roboto. Segundo o guitar-man Bernardo, a ideia era fazer o mesmo set list do show de abertura para o Red Fang, porém sem os hits. Resultados: Roboto mais instrumental do que nunca, como era um desejo da própria banda.

E o que dizer da vibe do show? Não só a Roboto foi capaz de atrair a atenção de choppes e rodinhas do lado de fora, como promoveu um banho de ritmo e sonoridade para quem se arriscava a chegar perto de um Breno completamente em transe (arrebentando case), sob a regência de mr. Bernardo – alô, Frank Black, temei – e um baterista que não parava de espancar os pratos – a não ser para complementar a zoeira sonora com um singelo trompete. Sim, isso tudo, e MAIS um pouco é o show da Roboto. De BH para o universo. GROAAAAAAARRRRRRR

roboto

Aproveitem esse registro da Roboto (e não reclamem da qualidade, sou jornalista e não videomaker, neammm):




Lobos de Calla: cremosidade para fechar a noite

lobos de callaEu adoro a Lobos de Calla. O que posso fazer? E adoro mais ainda os caras da Lobos de Calla, principalmente por tudo que inventam em nome da cena. Por isso, meu primeiro show desse trio seminal para a cena foi inesquecível. Pois pude perceber o quão natural era, para eles, fazer uma apresentação.

Sem fórmula e nem artifício, a interpretação ipsis literis das 10 faixas do excelente “Às vezes eles voltam” começa com os acordes de Eduardo que, apesar da timidez, aproveita o clímax de cada canção para convencer a todos de que estão diante de uma grande banda. Não precisa muito esforço. As letras – aliás, um forte da trinca da noite – falam por si próprias, como na minha preferida “Verdade Absoluta”. Os Lobos não correm, voam.

Mesmo imerso em confusão
Sem saber aonde ir
Estou certo de que é você
Quem estará ao lado 

lobos de calla

Veja a performance de Verdade Absoluta da Lobos de Calla:




Confira a matéria que foi ao ar no Jornal da Inconfidência FM sobre o evento:

A pauta fria do jornal muitas vezes não consegue captar a essência do que aborda. Mas nessa matéria em específico, a fala de Bruno trouxe um pouco da emoção que preenche esses eventos nos quais a entrada normalmente é free e as bandas tocam e se ajudam em um ato da mais pura camaradagem. Porque no final, é mais do que rock: é sobre amizade, esse sim o motor que conduz a cena independente de Belo Horizonte.




Esse dia foi LOKO, concorda?  E agora é a sua vez de deixar o seu registro sobre essa festa maravilhosa. 

Marcos Tadeu

Marcos Tadeu

Jornalista, idealizador e apresentador do Rock Cabeça na 100,9 FM, Rádio Inconfidência FM (MG) desde 2016. Acima de tudo, um fã de rock gringo.