[PREMIERE] Churrus: hobby levado à sério
Como assim, você tava achando que íamos encerrar este ano sem um disco novo do Churrus?
Pense de novo!
Para amenizar o climão que foi 2020, “Besides” chega com 10 faixas deliciosas, a maioria de sobras, o que torna o material ainda mais palatável, graças à total liberdade de composição de cada canção, a começar pela explosiva “Chasing”, com Stone Roses em seu DNA (e que trazemos com exclusividade neste artigo do Rock Cabeça). “O álbum “Besides” traz dez melodias que não couberam no álbum vinil, incluindo a música “Sweet Tides of Esperança” inspirada neste momento de pandemia. Todas as músicas foram gravadas em casa, a maior parte em São João del Rei, apenas as baterias em estúdio em Belo Horizonte“, explica Tulio Panzera, um dos fundadores do Churrus.
A banda é considerada um hobby para todos os integrantes, o que torna o processo de gravação muito prazeroso e às vezes até longo demais. Acredito que o famoso bairrismo e a hospitalidade sanjoanense fomentam a cena musical da cidade, que se mistura ao cenário nacional por meio da ótima receptividade das bandas e artistas de outras partes do país, que se integram facilmente ao movimento cultural local.
Tulio Panzera – vocais e guitarra do Churrus
A compilação de lados B do Churrus vai ser lançada pelos selos Fleeting (EUA), Midsummer Madness (Rio de janeiro) e Rapadura Records (São João del Rei), num intercâmbio cultural que só podia resultar em belíssimas canções e uma vontade danada de ver um show do Teenage Fanclub. Não por acaso, o último show da Churrus foi acontecer justo na capital mineira do underground, no Festival Soma, no finado Espaço Do Ar, em 7 de março, obviamente com casa lotada (bons tempos), conforme relembra, cheio de saudade, o guitarrista Luís Couto:
Foi um show bem marcante pra banda. Lembro que a galera tava cantando as músicas, veio gente de fora só pra ver a gente (já que são mais raros os shows pela dinâmica mesmo da banda) e foi a primeira apresentação do Igor oficialmente como nosso baixista. Desde então não vejo os caras, já que a maioria da banda tá em São João del Rei e o corona não nos permite viajar tanto mais. Sinto falta demais. O fato de sair de BH e pegar estrada pra São João del Rei só pra ensaiar e ver os caras, nunca foi algo difícil pra mim.
Luís Couto – guitarrista
Uma das bandas que também esteve presente no que se tornou o show de “até logo” do Churrus em 2020 foi a Radiotape, que divide o gosto pelas harmonias com os cinco músicos. Adilson Badaró, frontman da Radiotape, admite ter certa dificuldade em resumir sobre o Churrus: “Considero meus irmãos e tivemos sempre uma sintonia muito boa. Foram muitos shows juntos e sem dúvida a energia sempre maravilhosa“, relata Badá.
É uma banda que contagia pela qualidade de suas canções e da pegada nos shows. Até para a escolha de covers eu falo que são especiais. Afinal, não é qualquer banda que faz cover de Beulah, Teenage Fanclub, Guided by Voices… tem que ser muito foda pra mandar esse som e ainda tão bem como fazem. Tenho muito orgulho de tê-los na história do Radiotape e guardo com muito carinho todos os momentos. O que desejo? Que não parem nunca! Que continuem trazendo aos nossos ouvidos músicas de qualidade e inspiração de sentimentos e boas energias.
Adilson Badaró – Radiotape
A história por trás de Besides e Atlantic Railroad contada pela própria banda
Em 2019, após um longo período sem um álbum propriamente dito, o Churrus lançou “Atlantic Railroad” e, com ele, entregou não somente um conjunto de canções, como um contexto, em partes, autobiográfico, mas também de intercâmbio cultural e histórico entre Brasil e Inglaterra. Dentre as composições de Matheus Lopes e Luís Couto (ambos guitarristas e vocalistas), Túlio Panzera, fundador e também vocalista e guitarrista do Churrus, apresentou sua reflexão particular sobre sua relação de idas e vindas com a Inglaterra, através de uma imaginária “ferrovia atlântica” conectando São João del-Rei – o berço da banda – a Bristol, cidade na qual Túlio viveu pela maior parte dos anos em que trabalhou em seus pós-doutorados em engenharia aeroespacial. A própria constituição de sua família, o crescimento dos pequenos filhos, passa por essa ponte suspensa em Clifton Village.
Além de uma saudade ambígua, sentindo falta de suas raízes quando em terreno britânico, e dos parques e vilarejos ingleses quando no Brasil, Túlio resgatou também uma relação histórica entre São João e Inglaterra, que vem desde o período colonial. Uma via de mão dupla, na qual os britânicos levaram muito ouro, mas trouxeram conhecimento e participaram ativamente da cultura e da história local, com uma série de participações fundamentais nas estruturas ferroviárias e arquitetônicas, tão apreciadas do patrimônio da histórica cidade colinal mineira. Contribuições sólidas até os dias atuais, que podem ser contempladas em edificações da cidade, como igrejas e colégios.
Também veio da Inglaterra, no século XIX, a primeira vacina antirrábica da história de SJDR. Em 1848, o professor inglês Richard Duval fundou na cidade o Colégio Duval, onde era ensinado Letras, Religião, Latim, Inglês, Francês, Aritmética, Geometria, Filosofia, Geografia, História, Retórica, Desenho e Música Vocal e Instrumental. E que contou com o sanjoanense José Maria Xavier, renomado padre católico e compositor de música sacra, em seu corpo docente. Dentre os reconhecimentos do sacerdote, estão a cadeira de número 12 da Academia Brasileira de Música e a admiração de D. Pedro II, que ouvia sua obra enquanto viajava em 1881. É com uma de suas peças, Aleluia do Ofício de Sábado Santo, em sua introdução que Trashed Mind dá o chute na porta em Atlantic Railroad.
Passado o momento aula de História, é interessante acreditar que toda essa influência ecoa em São João até hoje, e que não é por acaso que bandas como o Churrus soem como soam. Dito isso, dado o caráter histórico e biográfico deste último álbum, músicas acabaram ficando de fora, simplesmente, por não dialogarem com a proposta ali abordada. E agora elas têm sua justa compilação lançada.
Confira a capa do novo álbum do Churrus, “Besides”:
Escute, com exclusividade, a faixa “Chasing”, que abre o álbum “Besides”:
Ficha técnica
- Capa: Igor Monteiro
- Captação de Bateria – Thiago Marinho
- Captação demais instrumentos – Churrus
- Mixagem/Masterização – Ricardo Santos
- Os contrabaixos do disco são por Bruno Retes, ex baixista da banda
Quem faz o Churrus (nos dias de hoje):
- Tulio Panzera – Vocais/Guitarra
- Matheus Lopes – Vocais/Guitarra
- Luís Couto – Vocais/Guitarra/Teclados
- Igor Monteiro – Contrabaixo
- Daniel Mascarenhas – Bateria
E então, o que achou das novidades do Churrus? Diz tudo aí pra nós nos comentários! 🙂