CIRIO: álcool gel e pesadelo no Brasil neofascista
Desde que o cultuado Djonga, uma das atuais vozes do rap com críticas mais contundentes ao neofascismo bolsonarista, resolveu jogar suas convicções pro alto ao aglomerar multidões durante show em pleno período mais crítico da pandemia, o gênero vem carecendo de artistas que, de fato, expressem em letras o momento trevoso pelo qual estamos passando por aqui (a partir do golpe de 2016 e culminando com a eleição do presidente miliciano em 2018).
Irônico que uma dessas novas e corajosas vozes surja justamente de Porto Alegre, praticamente um dos berços do bolsonarismo, uma vez que o Sul teve enorme adesão ao 17 nas eleições de 2018. Estou me referindo ao artista Maurício Círio, que atende pelo simples nome de CIRIO, e que acaba de lançar o genial “Rimas bélicas de álcool gel”, onde desfia toda sua ironia e indignação em face aos últimos acontecimentos que contribuíram para a triste marca de mais de 600 mil mortos pela COVID-19.
Ao contrário do que a gente percebe no trabalho de CIRIO, o rap feito hoje em dia evita em grande parte tocar no calo da nossa crise política atual, evadindo para outras áreas, digamos, existenciais. CIRIO atribui essa falta de coragem de grande parte dos artistas frente ao neofascismo que tenta se instalar no Brasil a todo custo a uma questão de “escolha”: A música serve tanto para aliviar as tensões como para fazer parte da luta. Eu escolhi fazer parte do segundo grupo, afinal, de omisso, já basta o governo”, pontua o rapper.
2 Toques com CIRIO
RC – A saber pela variedade da temática que emprega em suas letras, é como se você fosse um portal de notícias….A realidade é, assim, sua principal fonte de inspiração, e, melhor, indignação?
C – Atualmente, a realidade tem sido a minha maior fonte de inspiração. Fugir disso só me deixaria culpado e ainda mais indignado. Acredito que a música serve tanto para aliviar as tensões como para fazer parte da luta. Eu escolhi fazer parte do segundo grupo. Essa vontade de fazer crônicas sobre o nosso cotidiano vem de um projeto que tenho no meu canal do YouTube há mais de 5 anos chamado Cantadas Crônicas, onde crio composições musicais refletindo sobre assuntos do momento, misturando música com opinião e informação. Com relação às músicas do álbum, era um conteúdo que seria lançado apenas no canal do YouTube, na forma de retrospectivas mensais, contudo, a partir de março a pandemia estourou e eu me vi fazendo um álbum denso de luta e protesto.
RC – Você é um artista do Sul, região onde predomina o apoio ao “mito”. É mais difícil ou é mais benéfico destruir esse mito estando você direto no olho do furacão?
C – O Bolsonaro teve muito apoio aqui no Sul, contudo, acredito fortemente na mudança que a música e que uma boa conversa podem proporcionar. Já é perceptível uma alteração no discurso de muitos que apoiaram, agora arrependidos, o que traz um certo otimismo para 2022. Ele vai cair e, quando isso acontecer, precisaremos nos reconstruir enquanto nação, mesmo sabendo que a luta não pode e não deve parar.
Escute o álbum visual de CIRIO:
A maioria das músicas de “Rimas bélicas de Álcool Gel” foi composta em 2020 e fez parte do quadro “Cantadas Crônicas”, do canal CIRIO TV no YouTube, pelo qual o cantor reflete sobre assuntos atuais por meio de canções inéditas. “Era para ser um projeto de retrospectivas musicais, conteúdo que costumo trazer para o meu canal, contudo, a partir de março a pandemia estourou e eu me vi fazendo um álbum denso de protesto“, explica CIRIO sobre o processo criativo. Em 2021, CIRIO somou ao projeto duas canções inéditas, “Quadrilha da Vacina” e “Rimas Bélicas de Álcool Gel”.
Além do álbum em todas as plataformas, CIRIO apresenta um Álbum Visual em seu canal do YouTube, dirigido por Bruno dos Anjos, da produtora portoalegrense OCorre Lab. O filme possui mais de 13 minutos e conta com as músicas “Fique em Casa”, “Quarentena”, “Quadrilha da Vacina”, “Retrospectiva 2020″ e Rimas Bélicas de Álcool Gel”. A maior parte das cenas foi gravada na casa do cantor, trazendo uma característica autobiográfica para a obra, roteirizada pelo próprio artista.
Créditos “Rimas Bélicas de Álcool Gel” (FILME)
Roteiro: Maurício Círio
Direção, filmagem e edição: Bruno dos Anjos
Figurino: Renata Campos Preussler
Sound design: Leonardo Braga
Projeto gráfico: Vinicius Luz
Produção audiovisual: OCorre Lab
Realização: CIRIO TV + Cantadas Crônicas
Créditos “Rimas Bélicas de Álcool Gel” (ÁLBUM)
Autor e intérprete: Maurício Cirio (CIRIO)
Beat: Felipe Menegoni (Faixas “Rimas Bélicas de Álcool Gel”, “Quadrilha da Vacina” e “Retrospectiva 2020”)
Produção musical, mixagem e masterização: Leonardo Braga
Projeto gráfico (mídias sociais): Vinicius Luz
Capa (ilustração): Dinho Lascoski
Gravado, mixado e masterizado no estúdio OCorre Lab em Porto Alegre (RS)