Moda e Música com Isa Menta: Miss World

Moda e Música com Isa Menta: Miss World

Oi, gente! Mais um Moda e Música começando, Isa Menta aqui e dessa vez, decidi trazer um tema diferente pra coluna, que está mais relacionado à moda em si. Quem me acompanha lá no Instagram provavelmente já sabe, mas quem me escuta por aqui não. Em meio a toda essa minha história com a moda, que já cheguei a comentar nas colunas anteriores, por um bom tempo eu participei de concursos de miss. Concorri em certames municipais, estaduais, nacionais e internacionais, ganhei 14 títulos nesse período e além de ter sido uma experiência bem diferente, pude conhecer o outro lado da moeda que quem está de fora do meio, normalmente não conhece.

Isa Menta: Miss Europe

Como a maioria das pessoas não sabe como funcionam esses concursos a fundo e existem muitos estereótipos que envolvem o assunto, decidi trazer alguns fatos curiosos desse universo e mostrar como a música está presente até nele através das misses. Hoje em dia, apesar de não participar mais, gosto ainda de acompanhar e semana passada aconteceu o Miss Brasil, onde a capixaba Mia Mamede foi a escolhida para ser nossa representante no Miss Universo. Sendo a primeira ganhadora do Espírito Santo em toda a história do concurso, atualmente com 26 anos, Mia contraria todo aquela ideia ultrapassada de que uma miss não pode ser inteligente. Formada em jornalismo audiovisual e sócio economia pela Universidade de Nova York, a atual Miss Brasil é poliglota, fala português, espanhol, francês, inglês e mandarim e apresenta um programa no Youtube que fala sobre viagens e entretenimento.

E não só ela tem esse currículo para o Miss Universo. Júlia Gama, a representante brasileira de 2020 no internacional, além de ser também poliglota, estudou engenharia química, foi atriz na China durante 3 anos e chegou a participar de diversos campeonatos de patinação artística, boxe, judô e vôlei.

O que a maioria não sabe é que esses são grandes diferenciais que uma candidata pode apresentar nessas competições, sendo muitas das vezes uma das etapas mais importantes da sua preparação, ou seja, estudar línguas, assuntos gerais, temas como política, meio ambiente, aborto, problemas socioeconômicos que o país anda enfrentando, além, claro, dos tópicos tradicionais, como passarela e oratória. Há muito tempo os concursos de miss deixaram de eleger candidatas apenas pela beleza, aliás, o conjunto da obra é o que vem chamando mais a atenção dos jurados nos últimos anos.

Quando estamos falando de uma miss, dizemos sobre uma pessoa que querendo ou não representa um povo, independente de seu número. Assim, é importante que a eleita seja completa, não apenas um rosto bonito, como muitos acreditam. O histórico das últimas vencedoras não falha. Sempre ligadas a causas sociais, com formações e profissões consolidadas, antenadas aos acontecimentos do mundo para além do miss, são eleitas por serem consideradas potenciais porta-vozes da sociedade. Não à toa, a etapa mais importante da noite final é a entrevista feita ao vivo com as finalistas no palco, com perguntas que são surpresa.

O interessante é que a maior parte dessas misses costumam ter uma ligação muito grande com a arte, incluindo a música. Quando participei do Miss Europe, a ganhadora do ano anterior, Natalia Varchenko, em seu momento de despedida da coroa, apresentou uma música ucraniana no palco por ser cantora e ainda mostra sua ligação com esse universo através das apresentações de dança que faz pela Europa e dos covers em seu canal do Youtube.

Em todos os concursos de beleza nós temos provas durante os dias para avaliar diversas habilidades, como a fotogenia, a oratória, a passarela, a elegância, o corpo e em muitos certames nacionais e internacionais, uma das etapas é a prova de talentos. Nela, a candidata pode apresentar aquilo que ela tem por vocação para os jurados e muitas apresentam justamente MÚSICA! A representante sul-matogrossense do Miss Grand Brasil 2015 (que veio a ganhar o concurso, por sinal) Paula Gomes ou Paolla, declarou em entrevistas que decidiu participar do evento para consolidar seu sonho de ser cantora. Vendo no miss uma oportunidade de ganhar visibilidade, apresentou seu talento para o público e após ser coroada, alcançou 51 mil seguidores nas redes sociais, pôde lançar-se no meio musical e foi citada até pelo craque Neymar.

A ligação é tanta que a música “Miss Sarajevo” do U2 foi escrita para uma miss em específico, sabiam? Em meio a Guerra da Bósnia de 1992 a 1995, Inela Nogic havia acabado de ser coroada como Miss Sarajevo aos 17 anos, enquanto bombas e faixas escritas “don’t let them kill us” eram vistas do lado de fora. Em alguns lugares dos bálcãs, dizem que a Bósnia começa onde a lógica termina. Não por acaso, mesmo com toda Sarajevo cercada naquele momento, com disparos constantes, pouca comida e água e nenhuma luz, um concurso de beleza foi organizado. O evento foi realizado por um homem que na época fazia parte da comitiva de imprensa do exercito bósnio. Mesmo com toda a loucura existente em realizar o evento nessas condições, onde nem mesmo a eletricidade era garantida, ele aconteceu por intermédio do presidente da Bósnia, que conseguiu combustível para alimentar um gerador. Outro problema era em relação à divulgação das inscrições do concurso, uma vez que era extremamente perigoso expor que este aconteceria, já que os inimigos sérvios poderiam bombardear o local a qualquer momento.

Um dos prêmios era uma viagem a Espanha e a esperança de uma possível fuga para dar oportunidade aos parentes no futuro convenceu Inela a participar. Uma das juradas, que inclusive era uma cantora bósnia, ajudou a eleger a jovem de 17 anos não só como miss da cidade, mas também como um símbolo de resistência naquele dia.

O concurso e outras formas de arte foram usadas como armas para a luta pela sobrevivência. Mesmo em meio ao caos, algumas discotecas ainda funcionavam por apresentarem a música e a dança como válvulas de escape para não escutarem as bombas caindo lá fora. Foi nesse contexto que o U2, juntamente com o tenor italiano Luciano Pavarotti, decidiu escrever e gravar a música Miss Sarajevo. Em 1995, Brian Eno, compositor e produtor da banda, telefonou para avisa-la da canção, que por incrível que pareça Inela não gostou e não se sentiu representada. Embora não tenha chegado no top 100 da Billboard, a música alcançou posições muito boas em diversos países e hoje, 27 anos depois, Inela diz que apesar de não fazer seu gênero, gosta um pouco mais da composição.

Esse foi mais um Moda e Música, provando que está na hora de desfazer todos os estereótipos e preconceitos relacionados às candidatas que participam dos concusos de miss. Eu sou a Isa Menta e espero que tenham gostado do tema de hoje! Você sabia que os concursos tinham essa ligação tão grande com a arte? Me conta lá no instagram @isaamenta. Obrigada e até a próxima!

Escute novamente a coluna Moda e Música com Isa Menta:


E agora é sua vez de deixar o comentário acerca do que achou do nosso conteúdo!
Isabella Menta

Isabella Menta

Isabella Menta (ou só Isa) é mineira, designer de moda e bacharel em ciências humanas, atualmente cursando ciências sociais na UFJF. Apaixonada por moda desde cedo, decidiu unir dois universos até então distintos (mas que se complementam) através do quadro Moda e Música, trazendo histórias, curiosidades e indicações.