Maroon 5 de volta a BH: Adam Levine promete aprender português
No último sábado, dia 9 de setembro, Belo Horizonte inaugurou oficialmente a Arena MRV para shows com um espetáculo de hits da banda californiana Maroon 5 e a abertura da banda mineira Jota Quest, que fez seu show especial de 25 anos. Com uma arena novinha em folha, a capital mineira tem um futuro esplendoroso de música boa, modernidade e fogos de artifício.
O show da banda californiana Maroon 5 foi surpreendente. Admito que fui ao evento com as expectativas mais baixas possíveis, depois de ver inúmeras críticas em relação à participação do grupo no The Town, festival de São Paulo que teve a M5 como headliner no dia 5 de setembro. A banda, que tem quase 30 anos de carreira, mostrou superar as críticas passadas com mais energia e empatia que nunca.
A apresentação começou com 10 minutos de atraso de maneira dramática com sons de bateria e jogos de luzes que perduraram por 2 minutos, o que precedeu o clássico Moves Like Jagger, seguido de This Love e Stereo Hearts, de parceria com o grupo de rap rock Gym Class Heroes.
O vocalista Adam Levine se mostrou muito feliz e animado ao longo de todo o set de clássicos da banda, usando a guitarra em diversos momentos para acompanhar o guitarrista Jesse Carmichael e o baixista Mickey Madden. Em dado momento, ele disse que o Brasil é o local favorito da banda para tocar e fez um discurso em homenagem ao fã Renato, que está sempre na linha de frente da pista com muita energia e paixão e estava na pista premium do show.
O pianista PJ Morton foi um espetáculo particular na apresentação. Com pegadas de jazz e blues, o artista fez apresentações solo de teclado e voz em meio ao set, o que eu acredito que deveria ser mais explorado, uma vez que o protagonista da Maroon 5 não deveria ser apenas o Adam Levine – e sim, o grupo todo.
O grupo soube explorar bem os visuais dos telões e brincar bem com as luzes do palco para um efeito imersivo da plateia. As músicas Animals e Maps foram as melhores apresentadas no dia, dando a prova de que o que mantém o grupo há anos são os hits.
O vocalista ainda prometeu que na próxima vez que vier ao Brasil, terá desenvolvido melhor seu português. A apresentação terminou com fogos de artifício entre She Will Be Loved e Sugar, mantendo o astral nas alturas e a sensação de que um espetáculo acabara de acontecer diante dos nossos olhos. Definitivamente um evento para a memória e para marcar a inauguração de um espaço de bastante cultura e esporte para os belo-horizontinos.
Infelizmente, a interação com o público não foi uma das melhores, o que se deu em razão da programação dos telões de apoio que ficavam ao lado do palco. Os telões só eram ligados quando a música estava rolando. Quando Adam Levine, da Maroon 5, ou o próprio Rogério Flausino, da banda de abertura Jota Quest, pegavam o microfone e interagiam com a plateia, era basicamente impossível compreendê-los pois 1. os telões não estavam ligados, então somente quem estava na pista ou tinha um bom zoom do celular conseguia ver; e 2. apesar da acústica do local ser boa, o som do microfone dava muito eco nas paredes da arena, o que fez com que grande parte do público gritasse “Uhuuu!” quando percebia que os vocalistas tinham terminado de falar, e não em resposta ao que eles falavam. Em contrapartida, a acústica em relação ao instrumental foi impecável.
Jota Quest comemorou 25 anos de carreira na abertura do evento
O show de abertura da banda belo-horizontina Jota Quest começou com a energia nas alturas. O grupo estava fazendo seu show de comemoração aos 25 anos de carreira, o Jota25. Às 19:21, o show que estava previsto para começar às 19:30 explodiu com a clássica Além do Horizonte, seguida de Na Moral e O Sol. A energia da banda estava excelente, imagino que em razão da importância do evento.
Um outro ponto extremamente positivo para a apresentação da banda mineira foi o jogo de luzes e as cores nos telões. A música Amor Maior teve luzes vermelhas que refletiam nas pessoas da pista, como se o ambiente inteiro estivesse vermelho, o que garantiu uma imersão muito massa no show.
A apresentação, que teve 1h30 de duração, teve muitos pontos positivos. O vocalista Rogério Flausino se mostrou bastante emocionado ao longo do set, e chegou a afirmar que “Talvez esse seja o maior momento que o Jota Quest já viveu em toda a nossa carreira!”. Disse estar muito feliz que a casa deles está recebendo mais um local que será palco de muitos shows e lindos eventos, dizendo ter orgulho de ser mineiro. Pareceu ser o show da vida dele de tão feliz e animado que ele estava. Girava, corria e pulava em meio à energia do público e mares de flashes ligados.
A banda mineira tem muitos clássicos que já saem da boca do público sem que ele perceba. Eu, por exemplo, cresci ouvindo Jota Quest, mas nunca parei para, de fato, ouvir as músicas da banda – e eu sabia as letras de praticamente todas as músicas. Experts em fazer músicas chiclete pra já fazer parte do imaginário popular, principalmente da galera de Minas Gerais.
O preenchimento da arena foi bem tímido. Às 17:30, imaginei que o evento floparia completamente, acredito que por eu estar acostumada com eventos que as pessoas dormem na fila para garantir bons lugares. Até então, as filas para compra de comida e bebida estavam bem tranquilas, e a circulação lá dentro estava bem fácil. O local só foi enchendo mesmo na hora do show de abertura do Jota Quest e, na vez do Maroon 5, já nem se via o chão da pista pelo ângulo em que eu estava, da cadeira superior – Nível Inter.
Os lados negativos que percebi foram a não sequência entre músicas e o final curioso. Quando eles terminaram uma música para iniciar outra, as luzes de todo o estádio se apagavam e a banda demorava a retomar as canções, o que mantinha um breu de expectativa para uma próxima música. As seis últimas músicas da apresentação me deram a impressão que eram as últimas: energia nas alturas, o vocalista agradecia e as luzes se apagavam. E então outra música começava, com energia nas alturas, o vocalista agradecendo e as luzes se apagando. E então começava de novo. Tive a sensação de um show que não terminaria. Em seguida, a banda cedeu espaço ao DJ Mr. Mailbox, que preencheu a arena com hits do pop estadunidense dos anos 2010.
Arena MRV: estrutura moderna mas wi-fi não funciona
Como moradora do Barreiro, regional de BH próxima a Contagem, é sempre bom quando algum evento cultural é mais acessível em questões de mobilidade, uma vez que os grandes eventos musicais na cidade existem quase que exclusivamente na região da Pampulha ou do Centro. Para chegar na Arena MRV, decidi ir duas horas e meia depois que os portões foram abertos, e o acesso pela Via Expressa foi tranquilo e sem trânsito.
Ainda, a 1400 metros da Arena tem a Estação Eldorado, que facilita a chegada por transporte público. A organização ofereceu vans para pessoas que chegassem aos shows que tivessem a mobilidade reduzida e promoveu uma caminhada um tantinho longa pra quem não fosse elegível para o transporte.
O primeiro momento na Arena já foi um choque em comparação com os eventos no clássico Mineirão: a organização de entrada, revista e acesso ao evento por catraca com o QR code do ingresso já deu de 1000 a 0. Esse ingresso pôde ser acessado pelo app Quentro e apenas quem tinha comprado o ingresso poderia abrí-lo, o que impede o cambismo. Talvez por uma questão de menor público para o show do Maroon 5 e Jota Quest, comparando com o outro cenário com um público gigante de um evento de grande porte como o Planeta Brasil, a entrada foi bem mais organizada.
As primeiras impressões do novo estádio do Galo foram as melhores possíveis. Organização, acessibilidade e limpeza impecáveis. Todos os acessos tinham boas rampas para pessoas com mobilidade reduzida e/ou deficiência, além de ter faixas de piso tátil em todas as retas, grandes faixas de corrimão e bancos maiores nas arquibancadas.
No entanto, a arena que se pretende como a mais moderna da América Latina falhou em questões de… tecnologia. A organização que garante wi-fi gratuito para todos os presentes não cumpre bem essa promessa. A rede aberta “ARENA MRV – TORCEDORES”, que dependia apenas de um cadastro com o CPF do usuário para acesso à internet, não deu conta do grande contingente de usuários. Eu e meu grupo ficamos praticamente incomunicáveis por todo o tempo que estivemos no local, das 16h30 às 23h30. A internet do plano também não pegava por tamanha demanda, o que atrapalhou completamente até mesmo a saída do estádio: as ruas, que estavam quase todas bloqueadas pela BHTrans, não permitiam a passagem de carros de aplicativo – solicitação desses carros, nem se fala. Mal conseguimos fazer também.
Os preços dos itens de dentro da arena são o que já é esperado para eventos mesmo. O preço do estacionamento por dia é 80 reais, a lata de cerveja Spaten é 14 reais (que Circuito Brahma é esse que não tem Brahma Duplo Malte?), a água é 6 reais, o refrigerante 10, o Jack n’ Coke (novidade da Jack Daniels) 30 reais e a pipoca 15. Um ponto muito positivo é que o estádio fez uma parceria com a sorveteria Frutos de Goiás, que também vendia picolés e paletas por 10, 15 e 20 reais, o que foi excelente nesse calor de setembro.
No geral, a experiência de assistir ao vivo a Maroon 5, uma das bandas estadunidenses que marcaram minha infância e adolescência, foi bem positiva. A Jota Quest, que foi a banda nacional de abertura, teve uma energia condizente com o show principal internacional, o que elevou bem o nível da experiência. No entanto, a organização da Arena MRV precisa trabalhar melhor com a BHTrans para uma melhor experiência de mobilidade para quem quer continuar a frequentar o local que promete estar presente na cena cultural belo-horizontina.