A volta do Pink Floyd?
Nos últimos meses, repercutiu o boato de que o guitarrista David Gilmour, o baixista Roger Waters e o baterista Nick Mason fariam uma nova reunião da banda Pink Floyd. A última vez que tocaram juntos foi em 2011, na turnê “TheWall” de Roger. Diversos fãs, admiradores da banda ou ouvintes do rock n’ roll floydiano ficaram extasiados com a possível reunião dos ex-membros do Floyd. Mas a grande questão é: Seria realmente a volta da banda?
A utopia de um retorno
Talvez, em toda a sua história, o grupo nunca teve certeza de qual foi sua formação clássica. O que sabemos é que ela teve diversas fases, cada uma com sua peculiaridade e com lideranças diferentes. Portanto, qual seria a formação clássica do Pink Floyd? Não sabemos ao certo, mas depois de tantas experiências musicais dá para imaginar que, nem de longe, o verdadeiro Pink Floyd retornará com essa reunião.
Por quê?
Porque Richard Wright e Syd Barrett morreram, Nick Mason evita os palcos,David segue com sua turnê solo e Roger anuncia uma nova turnê titulada “US+THEN”, cujo repertório abrange vários álbuns do Floyd como Saucerful of Secrets (1968), Meddle (1971), Animals (1977). Um fato curioso da turnê, mas bastante previsível pelo estilo de Waters é que na música “Pigs (Three Different Ones)” – do álbum Animals, Waters fez críticas fortíssimas ao candidato republicano Donald Trump, que na ocasião ainda disputava as eleições presidenciais com a democrata Hillary Clinton, mas que acabou vencendo.
Com projeções fantásticas no palco e um imenso porco inflável, Trump é ridicularizado por Waters. A crítica e a letra de Pigs parecem que se encaixaram como uma luva. A letra reflete sobre o controle das massas pelos “endinheirados” ou pelos políticos inescrupulosos. Além disso, Waters também faz críticas à promessa de campanha do magnata em construir um muro na fronteira com o México. A frase e as palavras escritas no suíno inflável demonstra o desgosto de Waters com o político: “Foda-se Trump e esse muro”, “ignorante, mentiroso, racista, sexista, PORCO”.
Desvencilhando-se desse viés político, o boato de uma nova reunião só ajuda a construir uma utopia de que o Pink Floyd um dia possa voltar. No lançamento de The Endless River em 2014, Gilmour selou o fim do Pink Floyd em entrevistas quando afirmou que o álbum seria o último da banda. O músico ainda acrescenta:
“É uma pena, mas é o fim”.
O fim do Pink Floyd
Talvez os fãs se irritem comigo neste momento, mas eu arrisco a dizer que o Pink Floyd acabou há muito tempo. Esqueçamos os problemas e as brigas que os membros passaram. Basta ouvir os discos depois do álbum Animals (1977). A identidade como um quarteto foi sumindo, a sintonia entre os membros foi se extinguindo e os álbuns foram tomados por cargas totalmente individualistas.
The Wall (1979), considerado por muitos uma obra prima,prioriza principalmente as ideias de Waters – líder assumido da banda na época (O álbum é sobre a vida dele). Os teclados de Rick–já como músico convidado,a bateria de Mason e os solos de David no disco não são os mesmos, ficaram descaracterizados. Já os vocais de Waters mostraram o potencial do baixista como cantor e emocionam durante todo o disco.
The Wall é, sem dúvidas, a grande obra de sua carreira, mas faltou dar um pouco mais de personalidade aos “companheiros”.Com exceção da icônica canção Confortably Numb(inicialmente uma ideia de David Gilmour),não é possível sentir a alma dos outros membros nas canções, apenas de Waters.
Depois disso, expulsões dentro da banda influenciaram drasticamente o som do Floyd. The Final Cut (1983) não teve a participação de Rick, que foi expulso durante o The Wall. Todas as canções foram compostas e cantadas por Waters. Entre uma música ou outra dá para tirar, talvez, algo bom. O álbum é praticamente um disco solo de Waters, mas leva o título de Pink Floyd.
Depois disso, Gilmour assume a banda e Waters é expulso. Nem preciso dizer que a banda sem o ex-baixista perdeu a genialidade das letras conceituais, isso é inegável. Menos preocupação com as palavras, mas sim com a instrumentação e com a melodia.
Convenhamos, The Division Bell (1994), por exemplo, é um álbum bonito, mas não é genial como Dark Side of The Moon (1973) ou Animals. As letras doThe Division Bell foram quase todas escritas por Polly Samson – esposa de David.
Talvez isso revele um leve descompromisso do guitarrista em relação às letras conceituais.
Já o álbum The Momentary Lapse of Reason (1987) vingou menos, ou quase nada. Deste álbum, apenas três canções das dez lançadas tiveram um grande prestígio: Sorrow, Learning To fly e On the Turning Away. Ainda é preciso destacar que essas não são propriamente reconhecidas pela versão de estúdio, mas, sim pela enorme quantidade de versões em shows ao vivo.
Todos são o Pink Floyd
O resumo disso tudo é que todos os integrantes da banda são o Pink, ou o Floyd, como preferir. A volta da banda só seria possível com todos os integrantes reunidos, compondo e fazendo turnês juntos.
A reunião em 2005 no Hyde Park em Londres pelo Live 8 é um exemplo de verdadeiro Pink Floyd. A guitarra, o baixo, o teclado e a bateria naquele dia soaram como Pink Floyd. É impossível imitar o som dos quatro juntos, não adianta. Por mais que tenhamos os mesmos equipamentos, nós não temos os mesmos braços e as almas deles. O próprio Gilmour reconhece isso.
Algo acima da música
Em sua turnê Rattle That Lock(2015, 2016), o guitarrista voltou a se apresentar depois de 45 anos no Anfiteatro Romano de Pompéia, Itália: o mesmo local em que foi gravado o famoso“Live At Pompeii” em 1971.Depois do anúncio desse retorno memorável, a clássica canção Echoes foi uma das mais esperadas pelos fãs, pois a música ficou muito conhecida justamente naquele local.
Porém, David talvez nunca mais volte a tocar Echoes:
“Seria encantador tocar Echoes aqui em Pompéia, porém não vou tocá-la sem Richard Wright. Há algo especificamente individual na forma em que Rick e eu tocávamos esta canção que é impossível de ensinar para outra pessoa. É algo acima da música”, afirmou o músico na ocasião em uma entrevista à revista Rolling Stone. Essa afirmação do senhor Gilmour só comprova o que eu disse lá atrás: não há ninguém no mundo que possa repetir os feitos desses homens.
Uma reunião entre Roger Waters, David Gilmour e Nick Mason sem o tecladista Richard Wright nunca vai trazer o Pink Floyd à tona. A alma nunca vai ser igual. O rio é sem fim para o Pink Floyd, mas ele infelizmente já secou.
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