De peito aberto, Blur expõe o que sente em “The Ballad of Darren”

De peito aberto, Blur expõe o que sente em “The Ballad of Darren”

Em entrevista cedida para Jo Whiley da BBC Radio, Damon Albarn comentava os shows que tinha pela frente com o Gorillaz quando entregou que o Blur produzia um novo álbum. Primeiramente nomeado The Ballad, o projeto tem a ver com todas as circunstâncias em torno de si, em especial, o peso dos anos. Foram oito desde The Magic Whip (15), o último de inéditas do quarteto. Nesse período, o mundo passou por poucas e boas e os membros da banda percorreram diferentes estradas. Assim, estranho seria se The Ballad of Darren fosse mais um disco histriônico. Suas letras tocam em assuntos espinhosos e o tempo fechado na capa adianta o clima de pessimismo envolto à obra.

‘‘I have lost the feeling that I thought I’d never lose. Now where I’m going?’’

O anúncio de ‘Darren’ veio em uma quinta-feira de maio, junto do single The Narcissist. Música que revela um egocêntrico em conflito interno tentando se conectar com o mundo, e que de familiar com o Blur dos anos 90, só tem a voz do cantor. Depois, tudo aconteceu rápido. Mais um single foi promovido e a banda esgotou duas noites no Wembley Stadium executando mais de 20 músicas em cada uma delas. Em pouco mais de dois meses, chegou o lançamento do álbum que contém 10 faixas divididas em 36 minutos coesos. A experimentação com coros e cellos (como no encerramento, de The Heights) só ajuda na harmonia pavimentada pelos temas das letras que se debruçam sobre a esperança de dias melhores após uma perda, frustrações pessoais e a busca por qualquer satisfação num mundo onde se precisa seguir em frente, apesar das turbulências.

O disco é regido por James Ford. Também baterista dos Last Shadow Puppets, o produtor já assinou dois trabalhos que estão entre os mais comentados de 2023: Memento Mori, do Depeche Mode e That! Feels Good!, da Jessie Ware. Ford, que também divide os pianos do álbum com Damon, é nome de confiança da banda. Já trabalhou em The Now Now e Song Machine, dos Gorillaz e com Coxon no The WAEVE, projeto que mantém com Rose Elinor Dougall (ex-Pipettes). São duas as músicas em que as guitarras têm algum protagonismo: St. Charles Square e Barbaric. De resto, é notável a mão pesada da pós-produção e condução dos vocais e pianos, sem deixar de soar como uma unidade, com Albarn à frente.

Com agenda para shows na América Latina (Argentina e Colômbia no sul), o Blur, até o momento, não tem data para vir ao Brasil. No site oficial do grupo, as datas da turnê vão até o final de novembro, mas é provável que possa se estender. 2023 foi um ano onde todos trabalharam pesado. Enquanto Damon lançou Cracker Island e excursionou com o Gorillaz, o baterista Dave Rowntree também experimentou gravar um álbum sozinho pela primeira vez enquanto Graham não abriu mão dos compromissos com o WAEVE. Esses trabalhos já dizem alguma coisa sobre o momento pessoal dos londrinos e indicavam uma possível direção para The Ballad of Darren. Em meio a tanta atividade, fica difícil imaginar o futuro da banda que nos últimos oito anos encarou seu maior hiato, mas que, concentrando-nos na materialidade, entregou um álbum digno da espera. Condizente com o espírito do tempo e evitando o clichê da maturidade, trata de uma banda que entre idas e vindas, superou rupturas e soube tratá-las como os artistas fazem: se expressando com a música.

Escute agora “The Ballad of Darren” do Blur, na íntegra:

Gabriel Caetano

Gabriel Caetano

Publicitário que escreve sobre arte e entretenimento. Desde 09 tô na internet falando do que gosto (e do que não gosto) para quem possa gostar (ou não) também.