Evan Dando se despede do Brasil: With a little help from my friends
Uma das facetas de Evan Dando que boa parte das pessoas deve ignorar (principalmente em função das polêmicas que naturalmente ganham mais espaço na mídia) é a sua generosidade. Muito já se falou sobre um dos maiores hits dos Lemonheads, “Into your Arms”, mas pouco sobre a origem da canção. Para começar, ela também é uma cover, no caso, da Robyn St. Clare (The Hummingbirds). Mas é uma cover alçada a um dos álbuns de maior sucesso da banda “Come on Feel….” com o intuito de redirecionar os royalties para para a autora, amiga de Evan, que na época passava por perrengues financeiros. Entretanto, Evan não se limita à caridade pela caridade, pois o maior favor que ele faz àqueles que estão em seu redor é justamente incentivá-los a serem eles próprios e acreditar no valor do que fazem.
Já no Brasil, ao longo de 3 meses, Evan tem feito o oposto de artistas consagrados como Zé Ramalho – que em declaração polêmica afirmou que não mais serviria de “escada” para artistas iniciantes e/ou pouco conhecidos. Em todas as suas 4 apresentações por aqui, tem se cercado de músicos locais, inclusive fazendo da Twinpines sua banda de apoio em 2 shows elétricos. Além disso, tem aberto sua plataforma “internacional” para jovens como Tex, que o acompanhou brilhantemente em “Mrs Robinson” e “It’s a shame about Ray” no primeiro show solo no Sesc. Sem contar as novas artes das camisetas oficiais Evan Dando/Lemonheads, ao encargo de Magoo Félix, como se sabe, ilustrador local. Olha, com meus 7 anos de dedicação ao jornalismo cultural não tenho notícia de um artista do mainstream com esse grau de altruísmo em um espaço tão competitivo.
E no último domingo que antecede sua viagem para Argentina esta semana (alô Evan, aguardamos o “full report” que me prometeu sobre este rolê), o front man dos Lemonheads esteve, como ele mesmo disse em sua entrevista para mim, “comprometendo seu lado cool”, fazendo mais um show ao lado da Twinpines, com abertura da Plazma, banda que conta com o guitarrista (e “roadie das estrelas”) Lirinha Morini. Enquanto fãs a muitos quilômetros de distância querem saber qual é a nova composição dos Lemonheads, temo em dizer que ela exista na “Nuvem”. Lemonheads é hoje praticamente uma entidade invocada por Evan Dando, que convida para cerimônias (ou melhor, palcos) não só músicos competentes, mas que comungam com suas ideias e visões acerca da música como um instrumento acima de tudo pacificador, e não somente como mais uma commoditie (por exemplo, os feat. embaraçosos do Coldplay em São Paulo com vistas unicamente à viralização).
Diferente de Chris Martin, Evan é um rock star que não se deixa limitar – muito menos se intimidar – pelas regras do showbizz que consistem em dizer que um evento musical deve acontecer em um local específico e dentro de um horário. Segundo o fã/informante Caíque Silva, que realizou o sonho de vê-lo de perto após ter ficado sem ingressos para as duas apresentações solo do Sesc, a euforia de Evan ultrapassou os metros quadrados do Fabrique: “O show foi fantástico, estava lotada a casa, a interação do Evan com o público, a felicidade dele estampada no rosto, até bateria ele tocou em “Mrs Robinson”. No fim do show o Evan sai rapidamente do palco e meio que acaba do nada. Depois de alguns minutos ele sai do Fabrique correndo com a caixa da bateria e as baquetas, o público vai atrás dele na rua, ele para e começa a tocar, várias pessoas tiram foto com ele, (inclusive eu) até o segurança ir atrás e ele voltar para o Fabrique“, conta.
Neste post, vamos contar um pouco mais sobre esses “personagens” abraçados por Evan, assim como a própria cidade de São Paulo, que ele aponta como seu futuro lar, em uma casa que admite ter comprado na Serra da Cantareira. O americano, aparentemente, está se sentindo mais paulista que nunca: até já teve o celular roubado “gentilmente” (como ressalta), além de amar o Filial e ter feito a farra com os discos da London Calling. Agora, só falta assistir a uma partida do Corinthians, mas isso é tarefa para outra gringa de respeito, Taylor Swift.
Sobre a Twinpines:
Escute novamente o Rock Cabeça especial que foi ao ar este ano sobre a história da Twinpines e o contato com Evan Dando.
Evan Dando + Twinpines tocam Lemonheads no Fabrique
Conheça a Plazma (fotos via Lirinha):
Com um som encorpado que muito lembra uma mistura entre Counting Crows e Blues Traveler – graças ao incrível grave do vocalista, a Plazma surpreendeu quem aguardava apenas por um simples ato de abertura no Fabrique em pleno domingão. Com um set list conciso, de apenas 7 músicas, a banda que contabiliza décadas de estrada (com hiatos maiores do que o desejado) demonstrou que ainda está no jogo, cativando a audiência que estava ali por “Confetti” e, o mais legal, chegando a ser elogiada pelo próprio Evan Dando, que ouvia o som do backstage. Com uma benção dessas, duvido que eles não se atrevam a embarcar em uma turnê nacional em breve.
Conheça Tex:
O filho de Chico Teixeira e sobrinho de Antonia se juntou a Evan no palco do Sesc em 3-03 para tocar “It’s a shame about Ray” e “Mrs. Robinson”.
A partir de agora, é esperar a “mini-tour” desembarcar para data única na Argentina e sua inflação de 100%. Uma boa viagem para Evan e Antonia, ela que por sinal estreia na função roadie após promoter, social media e RP dos Lemonheads. Mas que sobretudo seja uma breve despedida, pois apesar da palavra “saudade” não existir no dialeto gringo, ela é a que mais se aproxima do que sinto em relação a Evan e todos os amigos que ele me deu toda vez em que retomo esta série.
Nos vemos pronto.
Ps: E, por falar nisso, Chris Martin, na próxima vez que estiver em SP, assegure-se de que o Evan está disponível, ok?
