I Hate Myself and I Want to Die
Se a essa altura você já está emocionalmente cansado de ler sobre mim, saiba que nem tudo é mágoa e vontade de vingança na minha vida, apesar de declarar publicamente que um dos meus filmes preferidos seja Kill Bill (Vol.1), do Quentin Tarantino, claro. Ao retornar ao campus da PUC onde me formei jornalista em 2001 e joguei para o alto uma talvez promissora carreira dentro das Relações Internacionais em 1997, bateu aquela saudade de quem era feliz e nunca soube, pois jamais deixou de ser um “mama’s boy”.
Por lá conheci pessoas incríveis que ainda fazem parte da minha existência. E outras, obviamente desprezíveis. Fiz também algumas muitas péssimas escolhas baseadas no medo. Aliás, medo e insegurança é uma constante na vida de todo jovem, acredito eu, mas poucos trazem de casa a autoestima necessária para não deixar que isso interfira em seus relacionamentos. E pior do que o medo de não ser aceito é o medo de ser aceito, como no meu caso, que tendo a sabotar qualquer tipo de coisa que venha a ser boa ou prazerosa para mim.
Ter a ousadia de me aproximar de uma das meninas mais bonitas do primeiro período de jornalismo, ser correspondido e deixar tudo ir por ralo abaixo a partir do momento em que me dei conta de que não possuía um automóvel, nem mesmo carteira de motorista para levá-la ao cinema e entregá-la em casa depois. Ou cortar relações com toda uma turma de novas amizades pela simples questão de que gostavam de queimar uma seda inocente em momentos de descontração. Se na faculdade houvesse uma matéria sobre “melindre”, eu certamente teria fechado com louvor.
Quando eu leio sobre a vida de rock stars desajustados em função do divórcio dos pais, eu sei exatamente do que eles falam… Um lar dissolvido, por mais que tenha se tornado comum hoje em dia, tem implicações no subconsciente que os filhos carregam pela vida inteira se não tiverem cuidado. Um sentimento de culpa pelo ocorrido a ponto de querermos consertar as coisas, passando a ocupar lugares que não são nossos. Quanto a mim, me tornei uma espécie de marido substituto da minha mãe, sabotando praticamente todas as garotas que um dia quiseram estar ao meu lado.
As mais persistentes permaneciam cerca de dois ou, no máximo 3 meses num namoro improdutivo e desprovido de sexo. A maioria era largada ou me largava bem antes disso, quando eventualmente se dava conta da minha completa inexperiência e traquejo para lidar com um relacionamento amoroso. Eu preferia me ater às impossíveis, especialmente aquelas com ex-namorados ainda onipresentes, um requinte de masoquismo para reforçar a ideia de que coisas boas geralmente não são endereçadas a mim, que se sentia como Kurt Cobain e tantos outros, “grande responsável pelo divórcio dos próprios pais”.
Se hoje eu vejo a instituição “casamento” como uma falácia, assim como a igreja é uma farsa que já desvelei por aqui, o divórcio é quase um problema de saúde pública quando envolve filhos e filhas. O estrago que uma decisão muitas vezes motivada pela prestação de contas à sociedade e, o pior, a Deus, faz na cabeça daqueles que são frutos desejados ou indesejados dessa relação deveria ser objeto de preocupação da medicina e não de doutrinadores. Afinal, todo divórcio é um escárnio, uma forma de dizer aos filhos, mesmo nas entrelinhas, que a existência deles não teve propósito. Propósito de vida. Eu procuro o meu até hoje e cada vez que acredito tê-lo achado, mais longe eu me sinto de compreendê-lo.
Até lá, continuo sendo uma fraude.