Leões de Marte: feras do riff melódico

Leões de Marte: feras do riff melódico

Americanófilo que sou,  jamais imaginei que algum dia me pegaria fã de bandas locais. E quando digo locais, eu me refiro a bandas mineiras. Bandas que não deixam absolutamente nada a desejar ao elenco estelar que guiou minha vida: Replacements, Dinosaur Jr., Weezer, entre tantas outras bandas do cenário indie gringo.

Todo esse nariz de cera apenas para ressaltar a grata surpresa que tive ao ouvir, pela primeira vez, esse time de guitarristas melódicos do Leões de Marte, que conseguem alinhar riffs com a mesma maestria de um J. Mascis. Uma sonzeira consistente, mas com paixão. Como Paul Westerberg um dia declarou: a música é boa o suficiente a partir do momento em que você a escuta com o coração, e não com o aparelho auditivo.

leões de marte

Com apenas um single divulgado e um EP no forno, o Leões de Marte, na prática um coletivo de músicos oriundos de diversas bandas, mostra a que veio nos primeiros segundos da faixa “Fobos”, a primeira vez em que ouvi guitarras dialogarem entre si, em riffs que não têm outra destinação senão nossas paixões. Eis o grande diferencial do Leões de Marte: ao se libertarem dos vocais, dão espaço para que o próprio ouvinte constitua a sua história perante o rock alucinante que jorra criatividade a cada acorde.

Longa vida a esses Leões, desde já bravos guerreiros pertencentes ao Lonely Hearts Club Band.

Confira a entrevista com Rodrigo Nueva, do Leões de Marte, no quadro Rock Cabeça da Inconfidência FM:

E agora, dá uma sacada na lista do Nueva de 10 artistas que valem a pena conferir:

  • Mother’s Cake

Hoje em dia, muitas bandas exploram estéticas de décadas passadas de um modo que chega a ser superficial, já o Mother’s Cake assimila o passado a uma proposta muito atual e passam longe de clichês e sonoridades já batidas. O timbre de guitarra stratocaster, característico, o groove e os elementos eletrônicos são características que fazem dessa banda uma das melhores descobertas musicais dos últimos anos e algo que ouvimos bastante na época que compusemos nosso EP.

  • Macaco Bong

Não se pode falar de rock instrumental no Brasil e não citar o Macaco Bong. Ultimamente, eles estão com uma turnê onde tocam o ‘Nevermind’ do Nirvana na íntegra, de forma instrumental e com a catarse que lhes é devida. Uma banda que nem mesmo o seu Zé da Esquina vai sentir falta de letra e vocais, o power trio exala catarse em cada performance, influência direta pra Leões de Marte.

  • Explosions in the Sky

Foi a primeira banda instrumental da qual virei fã. As melodias e o balé entre as guitarras é algo que alimenta a alma inquieta de qualquer músico. É uma banda que abusa das ambiências e moldou todo um novo estilo de se fazer música instrumental nos EUA. Uma das maiores inspirações pra mim quando busco me encaixar em meio à turbulência da Leões, sem contar que me apresentou várias outras bandas da mesma linha como ‘Hammock’ e ‘GodisanAstronaut’

  • E a Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante

Banda de São Paulo, a qual tem ganhado projeção cada vez maior no cenário musical atual. Já tiveram reconhecimento internacional com palavras do tipo ‘se aproximam da perfeição’. Não poderia deixar de citá-los. É quase um dever dos músicos envolvidos com a música instrumental no país. Segue muito a linha do Explosions in the Sky, com umas doses de math rock muito bem equilibradas. Bandão.

  • O´brother

O motivo da Leões de Marte existir se deve a esta banda. Rafael Dantas me convidou para iniciar o projeto ao lado dele após apresentar-lhe esta banda e ficarmos alguns bons minutos discutindo o quão genial esses caras eram, o modo como encaixavam três guitarras e o peso arrastado que eles conjuravam nas performances ao vivo.

  • SLVDR

Lê- se ‘Salvador’ (sem as vogais). Banda do RJ. Banda incrível do RJ. Ícones do math rock no Brasil, música “cabeçuda”, como bem disse Hugo Noguchi, baixista da banda, no show que dividimos juntos n´A Obra Bar Dançante, em BH. Fritação no mais belo sentido da palavra. Não vou mentir, não é fácil ouvir o som desses caras, mas quando você chega lá, a experiência é incrível. Exímios músicos, abusam da técnica, de pedais de efeito, mas não perdem a energia na performance ao vivo.

  • Animals as Leaders

Metal. Metal bom. Mais música cabeçuda pra lista. Power trio com duas guitarras de 8 cordas. Tappings (técnica de guitarra) aqui são mais importantes do que as palhetadas. O modo como exploram o instrumento é algo muito autêntico dessa dupla, é um som que te apresenta um novo modo de se fazer música pesada.

  • CircaSurvive

Não tem como se fazer uma lista sem citar o CircaSurvive. Minha banda predileta da vida e influência em tudo que faço, tudo. É aquela banda que te mostra todo um novo mundo e, passam- se os anos, segue se renovando e sendo uma banda incrível. Anthony Green (vocalista) é meu guru. As guitarras dessa banda foram o que me chamaram atenção num primeiro momento, assimilando peso, ambiências, efeitos mil, tudo muito atual. Uma evolução do emo dos anos 00. Ultimamente, entretanto, estou apaixonado no casamento do baixo e bateria da banda, percebendo a genialidade que a banda teve, ocupando os espaços e dando o ritmo necessário para que não se percam em infinitas melodias.

  • Chon

Math rock seria pouco pra descrever o tipo de som que esses caras fazem, com elementos de jazz, progressivo e eletrônico, algumas vezes. Extremamente complexo, extremamente bonito. É tudo que posso dizer sobre as músicas do Chon.

  • Kalouv

Amigos de selo, banda incrível. Me foi apresentada pelo próprio Rafael da Leões de Marte, há alguns anos. O que eu mais admiro na banda é o modo como navegam entre harmonias várias e sem deixar cair em algo enjoativo ou cansativo, conduzem as músicas para um ápice, um orgasmo musical que antecede a calmaria. É incrível.

E aí? Aprovou o som dos Leões de Marte? Diz pra nós o que achou aí embaixo, nos comentários. 

Marcos Tadeu

Marcos Tadeu

Jornalista, idealizador e apresentador do Rock Cabeça na 100,9 FM, Rádio Inconfidência FM (MG) desde 2016. Acima de tudo, um fã de rock gringo.