Mais melancólico e conceitual: Wilco passa por uma reforma em “Cousin”

Mais melancólico e conceitual: Wilco passa por uma reforma em “Cousin”

Já faz alguns anos que o Wilco tentava atualizar seu som. Com precisão, era 2011 quando estavam concebendo o álbum ‘The Whole Love’ por uma gravadora fundada pela banda – a dBpm Records surgiu para dar maior autonomia artística a suas produções. Mesmo que boas canções tenham surgido nesse período, nenhum dos discos seguintes é uma unanimidade entre os fãs. Bons, mas não bons como se espera. ‘Cousin’ ainda precisa sobreviver ao teste do tempo, mas algumas de suas músicas podem figurar entre as favoritas dos fãs.

Dessa vez, Jeff Tweedy apresenta um trabalho de maior complexidade instrumental e recheado de instrumentos que não integravam seu som. A responsável por isso é a cantora galesa Cate Le Bon (hoje radicada no deserto de Mojave, na  Califórnia). Foi ela quem deu a ideia de integrar saxofone, guitarra japonesa e baterias eletrônicas às novas músicas.

Efeito Cate Le Bon

Cate + Jeff (UNCUT)

Jeff conheceu Cate no Solid Sound Festival em 2019, evento promovido pelo Wilco e que funciona como uma convenção em torno de seu universo. Ambos ficaram amigos e ela acabou convidada a produzir o disco que estava no forno naquele momento. Eles não traziam um produtor externo para trabalhar consigo desde 2007, quando TJ Doherty produziu ‘Sky Blue Sky’. Enquanto passavam dias trocando chamadas e arquivos digitais com provas das músicas, Cate pressionava a banda a correr riscos, sem abrir mão de seus pontos fortes. Tweedy começou a compor e dar forma às canções, que Le Bon terminava. Ele consegue aqui, empregar as músicas uma de suas principais características como compositor – a capacidade de criar melodias e harmonias prazerosas e reconhecíveis. Como nas faixas ‘Levee’, ‘Evicted’ e ‘Soldier Child’.

A configuração dessas canções pode lembrar a dobradinha ‘Poor Places’ e ‘Reservations’, de Yankee Foxtrot Hotel e ‘Hummingbird’ do sequente ‘A Ghost is Born’. Já ‘Ten Dead’ é onde se começa a notar as interferências da produtora. O multi-instrumentista do sexteto, Pat Sansone, é quem parece ter se dedicado mais a esses arranjos.

“Cousin” é um álbum reflexivo e conceitual, fechado como unidade. Fala de desilusão e coração partido, através de um eu lírico comum. O próprio Jeff Tweedy explica: “Acho que estava tentando escrever do ponto de vista de alguém que luta para defender um argumento diante de evidências contundentes de que merece ser excluído do coração de alguém. Feridas auto infligidas ainda doem e, pela minha experiência, é quase impossível recuperá-las totalmente.” A obra demonstra isso nas linhas de ‘Infinite Surprise’, sua primeira música. Letra concisa, porém forte.

O décimo terceiro disco de estúdio do grupo de Chicago trouxe colaboração inédita e é mais experimental.

Um álbum “mais intenso”

Como antecipado, o álbum começou a tomar forma em janeiro de 2019 e só foi finalizado em maio deste ano. Sua produção foi interrompida pela pandemia, que quando passou, não tinha o melhor timing para ser lançado. Jeff contou para a Mojo Magazine que ‘Cousin’ ainda precisava ser melhor trabalhado enquanto as canções gravadas para Cruel Country, álbum lançado no ano passado, eram mais ‘imediatas’ – por registrarem companheiros que podiam, finalmente, se encontrarem após o hiato forçado. Já este álbum, precisava ser diferente e mais intenso.

Pois bem, com ‘Cousin’’ o Wilco atingiu seu objetivo – que nunca foi o de se reinventar, mas abrir o caminho para o futuro de uma banda que gosta de passar tempo no estúdio. Criar coisa nova. Foi necessário tempo e um olhar externo para que essa possibilidade ficasse concreta. Sendo pessimista, o fã pode encarar esse trabalho como um novo registro regular para continuarem na estrada, enquanto sob a melhor perspectiva (e mais precisa), é possível acordar que a partir do que foi realizado por aqui, encontraram um meio de continuarem se expressando e mais uma vez, ir além dos ouvintes habituais.

Ouça agora “Cousin” do Wilco:

Gabriel Caetano

Gabriel Caetano

Publicitário que escreve sobre arte e entretenimento. Desde 09 tô na internet falando do que gosto (e do que não gosto) para quem possa gostar (ou não) também.