Minhas Manhãs com Arnaldo Baptista

Depois da temporada de sucesso nos cinemas de todo país, “Loki – Arnaldo Baptista” está na programação do Canal Brasil, da TV paga. Trata-se de um documentário sobre a mente criadora por trás dos Mutantes, nome ligado à eclosão do movimento musical da Tropicália. Um dos melhores filmes brasileiros já realizados nos últimos anos.

Feita a introdução, gostaria agora de falar do Arnaldo Baptista que eu conheci, ou melhor, que acho ter conhecido. Costumo fazer caminhadas no alto da Praça do Papa em Belo Horizonte, no local conhecido como “anel da serra”. Certa vez, deparei com ele, mas não o reconheci logo. Penso que ninguém reconheceria.

O andar meio desengonçado, o olhar distante, ou melhor, não distante, mas alheio ao universo em redor. Andando totalmente desligado. Assim é o Arnaldo Baptista do anel da serra. A única coisa que realmente o distrai de si mesmo são os cachorros. Com os meus, ele faz questão de brincar. Como se Arnaldo e os caninos falassem língua similar.

A partir do momento em que me dei conta de que fazia minhas corridas ao lado de um ícone do rock brasileiro, passei a interpelá-lo. “Arnaldo, como é essa história de você voltar e sair dos Mutantes?” No que ele, sem interromper os passos, respondia com sua presença de espírito característica: “é que faltou elemento químico”.

Porém, não demorou tanto para que eu percebesse que o Arnaldo das manhãs sadias belo-horizontinas era o mesmo louco incompreendido do documentário. Cada curiosa pergunta minha Arnaldo sempre direcionou para sua mulher, que o acompanhava de longe na caminhada. Elogios sobre entrevistas eram recebidos com gargalhadas infantis, próprias de quem já perdeu um pouco do senso sobre si mesmo (ou tem medo de resgatá-lo).

Quando toda vez chega latindo para os meus três cachorros, eu brinco, dizendo que irei dar um para ele. Lucinha, a mulher, lá do outro lado, rebate: “se você der, eu que terei que cuidar”. Assim também com os gênios.

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