Moda e Música com Isa Menta: artistas mirins + pais problemáticos
Oi, gente! Moda e Música começando, o quadro que reúne histórias, indicações e curiosidades no Esse Tal de Rock and Roll, Isa Menta aqui e durante os últimos dias, qualquer que fosse a hora em que ligássemos as televisões ou abríssemos as redes sociais, a saga do relacionamento polêmico da atriz Larissa Manoela com os pais ganhava um novo capítulo. Pensando nisso e lembrando que moda aqui não é somente no sentido fashion da palavra, mas também envolvendo os modismos, o quadro de hoje vai falar sobre esses artistas mirins, todos os problemas por trás dessa fama precoce e as más relações familiares decorrentes disso.
Muitas pessoas sonham com o estrelato desde pequenas, mas o que várias delas não têm conhecimento é do sofrimento por trás das câmeras e dos palcos ao qual diversos artistas mirins foram submetidos desde o início de suas carreiras. Enquanto o sucesso se torna benéfico para as famílias, levando em consideração que muitas delas possuem sua fonte de sustento diretamente no trabalho que as crianças fazem, por outro lado, o reconhecimento vira um pesadelo para quem o pratica de fato. São inúmeros os casos de abusos psicológicos, sexuais, perseguições por fãs ou pela mídia e distúrbios gerados por esses eventos traumáticos no meio infantil. Com a tecnologia e a disseminação de informações em um volume maior e mais rápido nos últimos tempos, conseguimos passar a ter acesso as histórias que até então ficavam “escondidas” pelo que as câmeras não capturam.
Um exemplo clássico disso, infelizmente, é a atriz Judy Garland, que atuou no filme “O Mágico de Oz” em 1939. Enquanto arco-íris e cantorias são retratados na produção, nos bastidores a jovem vivia um verdadeiro inferno. Foi o papel de Dorothy que fez Judy alcançar o sucesso de vez em Hollywood aos 16 anos. Além da enorme pressão em cima dela, já que sempre houve uma expectativa nutrida pelos pais para que ela fosse uma grande estrela (e ela foi criada para isso), os abusos nos sets de gravação eram constantes. Mesmo sendo protagonista, seu cachê era o mesmo dos anões que interpretavam os munchkins, que chegaram, inclusive, a molestar a atriz. Em meio as longas jornadas no estúdio e a rotina de estudos de manhã, Judy era obrigada a tomar pílulas para dormir ou estimulantes para se manter acordada. Anfetaminas para saciar a fome e assim, não pararem de gravar também fizeram parte de sua “dieta”, que acabou levando a uma dependência aos 16 anos. Não bastasse tudo isso, a jovem também era submetida a plásticas para estar sempre em dia com sua aparência de “menina”. Todo esse cenário de horror e traumas levou a morte da atriz, com apenas 46 anos.
Ainda após esse período, outros casos foram vistos: Natalie Portman, com apenas 11 anos, foi apresentada ao mundo através de sua personagem Mathilda e em pouco tempo se tornou símbolo de beleza. No entanto, todo seu sucesso, novamente, seguiu o mesmo rumo: o pesadelo. A atriz passou por um processo de sexualização intenso antes mesmo de completar sua maioridade. Em entrevista a um podcast, comentou um episódio em que ainda criança recebeu uma carta de um fã e ao abri-la, a empolgação deu lugar a um dos eventos mais traumatizantes de sua carreira: uma fantasia sexual que envolvia estupro por parte do autor. O descontrole foi ainda maior quando programas de rádio começaram a fazer “contagem regressiva” para quando ela completasse 18 anos, que seria quando se tornaria legal ter relações sexuais com a atriz. Mesmo com todo o lucro proveniente das gravações e o sucesso derivado delas, Natalie decidiu passar a recusar dali por diante qualquer papel que apresentasse cenas de beijo ou sexo, numa tentativa de se defender dos abusadores.
Na própria Nickelodeon foram relatados episódios de abuso e assédio. O canal, que marcou a infância de muitas crianças mundo a fora (inclusive a minha), sempre utilizou de atores e atrizes menores de idade para estrelar suas produções. O centro das polêmicas envolvendo o tema foi o roteirista e produtor Dan Schneider, que esteve por trás de seriados famosos, como iCarly, Victorious (Brilhante Victoria), Kenan e Kel, Drake & Josh, etc. Jennette McCurdy, a Sam de iCarly, retratou em seu livro “I’m Glad My Mom Died” as diversas cenas em que o fetiche de Dan em pés foi colocado nos episódios. Em meio aos abusos, Jennette menciona aquele realizado por sua mãe. Foi ela quem colocou a jovem para atuar com 6 anos de idade. Aos 10, ela já era responsável financeira da família, que não possuía condições. McCurdy comenta que nunca gostou de atuar e inclusive sente vergonha pela maioria dos papéis que já fez, mas o fazia por pressão da mãe, chegando a comentar que se esta ainda tivesse viva, com certeza teria sido a causadora de um distúrbio alimentar. Com 10 anos, a jovem já era submetida a clareamentos em seus cabelos e dentes, além de ter passado por fases muito difíceis, que incluíram a anorexia completa e posteriormente a compulsão alimentar e bulimia. Foi somente após a morte da mãe em 2013 que a atriz se viu livre.
Michael Jackson e Macaulay Culkin (“Esqueceram de Mim”, “Riquinho”, etc) também são exemplos de crianças que foram vítimas do estrelato precoce. Ambos submetidos a jornadas exaustivas de trabalho, controladas por seus pais, que eram bastante rígidos, tiveram o mesmo problema: o vício nas drogas e remédios. O lucro era o principal fator pensado, deixando de lado o bem-estar e a saúde mental dos artistas, que até então eram crianças. Michael menciona em algumas entrevistas que em cima dos palcos se sentia bem, mas quando seus shows acabavam, toda a alegria ia embora ao se deparar com a solidão de ser um jovem famoso e de ter tido sua infância “roubada”. Enquanto seus amigos viviam uma vida normal, ele era obrigado a passar horas treinando, ensaiando, etc.
Lembrando do caso da Larissa Manoela, que teve todos os seus bens e lucros retidos pelos pais, é impossível não lembrar do caso de Britney Spears, que começou a cantar com 3 anos de idade. A artista, que passou por um momento psicologicamente turbulento nos anos 2000, viveu até 2021 sob a tutela abusiva do pai, que controlava todo o seu dinheiro e atitudes. Britney alegou que ele e sua equipe a proibiram de casar e ter filhos durante esse regime, além de ter sido obrigada a se apresentar e tomar remédios contra sua vontade. Com o aumento dos chamados “influencers”, o problema começou a afetar até mesmo o Youtube. Em entrevista anônima à Teen Vogue, uma jovem diz viver um verdadeiro inferno com os pais, que a obrigam a trabalhar desde cedo gravando vídeos que ajudam no sustento da família. Eles, que abandonaram seus empregos para se tornarem youtubers em tempo integral, documentaram toda a infância da garota na internet e, após crescer, ela se viu sufocada em meio a exposição. Quando manifestada a vontade de encerrar a rotina ligada às gravações, o pai a proibiu alegando ser seu chefe.
Sem dúvidas é uma situação muito complicada, principalmente levando em consideração que em vários casos o sonho não é da própria criança e sim dos pais e estes exercem poder e controle sobre a carreira dos filhos. Embora sejam artistas extremamente novos, há de se lembrar que são pessoas dotadas de sentimentos, dores, problemas e que estão na fase de se formarem enquanto indivíduos, então toda e qualquer experiência é relevante nesse desenvolvimento. Os traumas e abusos vivenciados na indústria podem impactar e realmente impactam a vida dessas crianças para sempre, como no caso dos artistas citados hoje. Além da pressão dos próprios pais mediante a toda essa situação, tudo se agrava ainda mais quando o artista é a fonte de renda da família inteira, como é o caso da Larissa Manoela, que estamos vendo nas últimas semanas.
E você, o que acha dessa exposição toda desde novos? Me conta lá no instagram, @isaamenta, eu sou a Isa Menta e esse foi mais um Moda e Música, o quadro que reúne histórias, curiosidades e indicações dos dois universos. Obrigada e até a próxima!