Moda e Música com Isa Menta: Legado Rita Lee
Oi, gente! Isa Menta aqui começando mais um Moda e Música, o quadro que reúne histórias, indicações e curiosidades no Esse Tal de Rock and Roll. No dia 8/05, o rock nacional sofreu uma grande perda, o falecimento da cantora e compositora Rita Lee, considerada por muitos como a “rainha do rock brasileiro”. Referência para aqueles que começaram a se interessar pelas guitarras no início da década de 1970, Rita se tornou uma das musicistas mais influentes do país, tanto pelo seu talento, quanto por toda a personalidade que carregava. E é justamente por isso que a coluna de hoje é em homenagem a ela.
Nascida em São Paulo no ano de 1947 numa família de classe média, desde jovem já apresentava interesse pela música. Ainda quando criança chegou a ter aulas de piano, mas foi durante sua adolescência que começou de fato a tocar e compor suas canções. Ingressou no curso de Comunicação Social na USP, mas logo abandonou a universidade para se dedicar ao meio musical. Rita construiu sua carreira pautada principalmente no rock, mas ao longo dos anos conseguiu dialogar com diversos outros estilos, como o new wave (que já tem coluna aqui sobre), o disco, o pop e a psicodelia presente na era do tropicalismo.
De 1966 a 1972, Rita fez parte de sua primeira banda, Os Mutantes. Foi através dela que a cantora começou a ganhar notoriedade, juntamente com Arnaldo Baptista, com quem foi casada e Sérgio Dias. Com forte influência de figuras como Jimi Hendrix e os Beatles, o grupo se consagrou como um dos principais quando o assunto era hibridismo musical. Em 1968, lançaram seu primeiro disco, batizado com o mesmo nome que levava a banda e este trouxe consigo diversos hits, como “A Minha Menina”, “Dom Quixote”, “Ando Meio Desligado” e “Balada de Louco”. Ao longo do tempo, Rita acabou gravando alguns discos solo, principalmente porque em um dos anos Os Mutantes já haviam feito o lançamento de outro álbum e a gravadora não permitiu que mais um viesse a público. Foi a partir de um deles, inclusive, que surgiu o primeiro single solo da cantora. A banda atingiu seu sucesso e foi seguindo para um rock mais progressivo, o que acabou resultando em alguns desentendimentos entre os integrantes, até que a rainha do rock fosse expulsa pelo seu até então marido, Arnaldo, que alegou que a cantora não possuía a habilidade necessária para o estilo.
Um ano após ser convidada a se retirar da banda, Rita se juntou a alguns amigos e criou o Tutti Frutti, onde além de cantar, também tocava violão, sintetizador, piano e gaita. Foi nesse grupo que a artista de fato se consolidou como a rainha do rock brasileiro. Em 1975, lançaram o álbum “Fruto Proibido” pela Som Livre e apresentaram canções como “Esse Tal de Rock Enrow”, “Agora Só Falta Você” e “Ovelha Negra”, que são ouvidos até os dias de hoje. A venda de mais de 200 mil cópias tornou o disco um clássico do rock nacional. Uma das características mais marcantes da artista era sua atuação na defesa dos direitos das mulheres. Rita foi uma das primeiras figuras do sexo feminino a subir em um palco tocando uma guitarra e foi voz atuante no período da ditadura militar.
A começar pela sua aparência, a rainha do rock brasileiro já mostrava que fugia dos padrões da época, com seu marcante cabelo vermelho. Logo após seu segundo disco pela Tutti Frutti, “Entradas e Bandeiras” foi lançada em 1976 e durante esse mesmo período, a artista conheceu Roberto de Carvalho, com quem viria a se casar posteriormente, permanecendo até seus últimos dias de vida. Vida essa que foi bastante marcada pelo famoso “sexo, drogas e rock n’ roll”. Já durante sua primeira gravidez, enquanto morava com o músico, Rita foi presa por porte e uso de maconha. No entanto, a cantora já havia parado de usar e alegou ser de amigos e frequentadores de sua casa. O episódio foi considerado um dos mais violentos da ditadura, uma vez que ao tentar fazer servir de exemplo para os jovens da época, fez com que a artista ficasse em regime domiciliar por cerca de 1 ano, refém de autorizações especiais de um juiz para que pudesse fazer seus shows. Foi a partir desse momento, inclusive, que Paulo Coelho e Rita compuseram e lançaram a música “Arrombou a Festa”, que se tratava de uma crítica bastante polêmica ao cenário MPB do período.
Já livre, a rainha saiu em turnê com Gilberto Gil e em 1978 lançou o álbum “Babilônia”, que trouxe consigo outros hits, como “Jardins da Babilônia”, “Agora é Moda” e “Miss Brasil 2000”. Esse é considerado por muitos como o último disco verdadeiramente de rock da cantora, já que pouco tempo depois o grupo se desfez e ela seguiu para outros estilos também. Após o desentendimento que gerou o fim do Tutti Frutti, Rita e Roberto decidiram firmar uma espécie de dupla e fizeram diversos shows e aparições na televisão, sendo a maior parte delas na TV Globo. Em 1977, declarou que não era uma rockeira radical e não gostava dos extremistas do rock e da MPB, o que acabou por alcançar prestígio por parte do público. O fruto dessa parceria, além do casamento, foi o lançamento de músicas que se tornaram muito famosas, como “Doce Veneno”, “Mania de Você” e “Lança Perfume” (minha favorita).
Em 1991, separou-se de Roberto na música e seguiu carreira solo, consagrando mais algumas canções como “Erva Venenosa”, “Amor e Sexo” e foi tema de novelas, como A Próxima Vítima, Zazá, Ti-Ti-Ti, Sassaricando e outras. Em 2012, fez sua última apresentação após anunciar que se afastaria dos palcos por motivos de saúde. Declarou ainda “me aposento dos palcos, nunca da música”. Rita atingiu tanta notoriedade no meio musical que foi homenageada no carnaval de 2012 pela escola de samba Águia de Ouro e foi eleita pela Rolling Stone como a 15ª maior artista da música brasileira. Na moda, a cantora fez seu legado. Ela se posicionou durante sua vida não só na política, na religião e na música, mas também demonstrou ser uma verdadeira “camaleoa” quando o assunto era o meio fashion. Suas roupas traduziam além de seu próprio estilo, uma série de simbolismos e imagens.
Os figurinos de sua primeira banda eram idealizados por ela e já foram inclusive alvo de protestos, quando no primeiro show após sair da prisão, na era Geisel, Rita se vestiu de presidiária. A rainha do rock brasileiro foi comparada muitas vezes ao próprio David Bowie, sendo vista por alguns como sua versão feminina, já que transitou entre elementos da estética hippie e paz e amor, mas também incorporou peças do glam, com bastante brilho e sedução. Ainda no espírito de protesto que Rita carregava, nunca deixou de lado sua personalidade “bruxa”. Se vestiu diversas vezes como uma para contrariar a igreja católica e as premissas do patriarcado, já que era defensora dos direitos das mulheres. Toda sua irreverência e originalidade fizeram com que sua imagem se tornasse inspiração para muitos nos mais variados sentidos e mesmo com sua morte, eterna nos corações dos amantes do rock.
Me conta lá no instagram @isaamenta o que você achou da coluna de hoje, eu sou a Isa Menta e esse foi mais um Moda e Música, o quadro que reúne histórias, curiosidades e indicações dos dois universos aqui no Esse Tal de Rock and Roll. Obrigada e até a próxima!
Ouça novamente a coluna Moda e Música que foi ao ar na Rádio Inconfidência:
E pra você, qual o significado da música de Rita Lee em sua vida? Diga nos comentários!