Natália Nó: “É massa ter novamente como presidente alguém que respeita a democracia”
Em Minas, usa-se muito a expressão “Nó”, que é uma abreviação de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (ou qualquer Nossa Senhora ao gosto do fiel), quando queremos expressar alguma forma de indignação ou surpresa. E curiosamente, trata-se de um sentimento também muito apropriado para entender a nova “fase” da Natália Noronha, ex-frontwoman da cultuada banda Plutão Já Foi Planeta (hoje um trio), como dj, produtora e compositora de electro-pop. No fim, Noronha se tornou apenas “Nó”:
É sonoro, minimalista e acho que combina mais com a identidade que tô adotando agora.
Natália sobre a adoção do “Nó” no lugar de Noronha
A vibe dançante/sensual com fortes linhas de baixo que já dava pequenas mostras no Plutão em canções como “Estrondo”, agora se tornou todo o universo da cantora, hoje uma das grandes responsáveis por colocar a capital do Rio Grande do Norte no mapa da música pop brasileira independente. Sim, com o perdão do trocadilho, Natália é de Natal, conforme atesta seu sotaque suave e seu apreço inato pelo banho de sol na praia até mesmo em dias úteis.
Muitos (inclusive eu) podem questionar a decisão de deixar uma banda tão querida como a Plutão, ainda mais tendo ela uma presença de palco inacreditável, mas Natália afirma que foi uma decisão norteada pela vontade de produzir seu próprio material e explorar outras sonoridades sem precisar fazer concessões. “Tô amando produzir minhas próprias músicas (que foi algo que sempre encabecei) e espero que as pessoas curtam e embarquem nessa comigo”, diz.
Embora seus primeiros singles da carreira solo tragam uma temática, digamos, mais romântica, lasciva, apaixonada, Natália, que também se formou em jornalismo, não tem restrições quanto a discutir sobre política nas suas redes sociais, comemorando a volta da democracia com um presidente eleito que irá, segundo ela, olhar pela cultura: “Sobre o governo Lula, eu tô bem esperançosa sim. Todo mundo sabe como ele é um líder que dá atenção para o setor da cultura. Mas acho que mais do que isso, é massa ter novamente como presidente alguém que respeita a democracia“.
Caso não tenha ficado claro nesta matéria, Natália, além de artista inovadora e corajosa, é nordestina.
Nó!!!!
2 5 Toques sobre Natália Nó
RC – Olá Natália, prazer conversar com você novamente. Conta pra nós um pouco dessa sua nova identidade, Natália “Nó”, além de ser uma abreviação do seu sobrenome, aqui em Minas nós dizemos “Nó” quando ficamos surpresos com alguma coisa. Mas também pode ser um “Nó” de cadarço, complicado.
NN – Natália “Nó” surgiu como uma maneira de “marcar” de forma mais clara essa transição pra carreira solo. É sonoro, minimalista e acho que combina mais com a identidade que tô adotando agora. Natália Noronha fica pra pessoa física (hahaha).
RC – No Plutão, você contava com outros 4 músicos de alto nível – o que de certa forma, acredito, lhe dava uma sensação de segurança maior na hora de subir ao palco ou compor. Agora, sozinha, no seu estúdio, tocando todos os instrumentos. Você se sente mais exposta, tem mais receio da reação da audiência?
NN – Não, não tenho receio. Na verdade tem sido muito legal compartilhar com o público o meu som e a identidade do meu trabalho solo. Estar num processo criativo com banda é quase sempre fazer concessões estéticas acerca dos caminhos da música, e agora estou num momento onde quero explorar referências, vibes e sons específicos. Tô amando produzir minhas próprias músicas (que foi algo que sempre encabecei) e espero que as pessoas curtam e embarquem nessa comigo.
RC – Aproveitando, a saída do Plutão, num momento em que a banda estava no auge, tocando no Lollapalloza, por exemplo, pode ser atribuída a essa sua vontade de fazer um som mais electro-pop que de certo modo não casava tanto com o pop orgânico da banda? Ou houve treta?
NN – Desde que me entendo por gente eu gosto muito de música pop, então estar nesse universo sempre foi natural pra mim. eu gosto da objetividade e da facilidade com que esse gênero tem de falar com muitas pessoas, e isso pra mim é muito importante quando a gente fala de fazer arte. então na verdade a vontade de fazer esse som está muito relacionada a como eu consumi música ao longo dos anos.
RC – Você citou Dua Lipa como referência para o som de “Pode ser assim”, o que é bem bacana. Você de fato tem essas cantoras (vamos citar a galera que se apresentou no Primavera Sound tb como Caroline Polachek) como ídolas ou é uma escolha, digamos, comercial soar parecido com o que é tendência no mercado musical? Em suma, daqui pra frente teremos mais a Nat DJ, a Nat compositora multifuncional ou ambas?
NN – Como falei anteriormente, a música pop é algo que tá no meu dia a dia, é o tipo de som que eu ouço em casa de fone e piro quando o DJ toca na balada. Então, a real é que é muito natural pra mim compor e produzir coisas mais pop. É claro que, no meio do processo de criativo, às vezes rola uma análise se determinada letra está mais ou menos palatável (portanto, “mais ou menos pop”) para um maior número de pessoas, mas não é algo que se sobrepõe a uma sincera expressão artística. E se fosse, eu não veria problema: acho super normal pensar a música como produto, afinal, a gente tem boletos pra pagar, né?
RC- Você se formou em jornalismo há pouco tempo: o que essa matéria tem agregado a sua faceta artística hoje em dia? Está esperançosa para o primeiro ano do governo Lula no que ele tem de propostas para a cultura (principalmente)?
NN – O curso de jornalismo já me ajudou bastante na minha carreira como artista… é bem legal saber escrever um release, por exemplo, ou ter noções de comunicação no geral. Mas ainda prefiro música… Sobre o governo Lula, eu tô bem esperançosa sim. Todo mundo sabe como ele é um líder que dá atenção para o setor da cultura. Mas acho que mais do que isso, é massa ter novamente como presidente alguém que respeita a democracia. Acho que cultura e democracia não andam separadas quase nunca. Viver num país onde o presidente valoriza esse conceito e tem a luta contra a fome e a educação como prioridades é também viver num país favorável para o fortalecimento da cultura.
O que achou do novo trabalho solo da Natália Nó? Conta pra nós nos comentários!