nobandnobrand: pop sem rótulo
Ano após ano, Porto Alegre se consolida na vanguarda musical brasileira. É de lá que o rock brasileiro surgiu revigorado após o Brock dos anos oitenta, e também é lá que o pop vem assumindo formatos cada vez mais interessantes, em consonância ao que de melhor é lançado lá fora. Um dos artistas dessa nova safra que não me deixa mentir é o Bernardo Liz, que com o seu projeto nobandnobrand (em tradução livre, algo como “sem banda e sem marca”) nos presenteia com um single de estreia etéreo, gravado no melhor estilo “bedroom pop”. “Acho que se a gente não se identifica tanto com a cena local, acaba se sentindo mais seguro, mais confortável, escrevendo no quarto, de forma mais intimista”, diz Bernardo, que contou com a ajuda do produtor Nick Mendes neste trabalho.
Segundo Bernardo, que também aproveitou o longo período de isolamento social para compor, “Memento”, primeiro single de nobandnobrand, é uma forma de “encarnar com esperança o eventual fim da Covid, assim como a superação de um término“.
O uso do auto-tune “extremo” aqui, em vez de encobrir alguma deficiência técnica (finalidade para a qual sempre é usado na indústria), acaba contribuindo para a vibe intimista da canção, e essa distorção da voz, digamos asim, é algo já usado, com sucesso, por Bon Iver a exaustão, especialmente no antológico ep “Blood Banks”. “Eu cresci ouvindo esse uso no pop gringo, e sempre curti o efeito que criava em algumas situações”, revela Bernardo, que também cita Charli XCX como uma de suas principais influências.
2 3 Toques sobre nobandnobrand
RC- A princípío, o que mais chama atenção em relação ao seu projeto musical é a criatividade, a começar pelo nome: nobrandnoband. Esse nome é como se fosse uma espécie de cartão de visita para o seu público? De onde surgiu essa ideia?
NBNB – Adorei saber disso! Tento ser criativo em tudo que faço, acho que a gente sempre pode tornar as coisas mais.. interessantes, com imaginação. maaas o nome tem uma origem quase que acidental. Em 2018 eu decidi criar um email pra tudo que fosse relacionado a música. Me deparei com a tela de “Crie sua conta” do Gmail, e simplesmente preenchi com o que era minha realidade no momento: um artista sem marca, nem banda. Eu não imaginei na época que fosse virar um nome artístico, mas quanto mais o tempo passava, mais significações eu ia encontrando pra usar esse “cartão de visita”, e daí pegou! No band, No brand.
RC – Você é de Porto Alegre, assim como Yoñlu, que escrevia canções magistrais e inventivas dentro do quarto. Um estilo de composição que não vemos muito por aqui no Brasil. A que se deve esse fato na sua opinião, existe uma fonte secreta aí no Sul que inspira o bedroom pop de vocês?
NBNB – Essa pergunta me faz pensar bastante. a resposta simples seria falar do frio né? Faz tanto frio que a gente não quer sair do quarto pra compor. Mas eu acho que tem uma união de elementos aí. A primeira coisa é a questão de cultura e geografia mesmo, aqui em Porto Alegre a gente ama e consome a cultura brasileira, mas parece que a gente vê de fora, sabe? Temos uma cena local que por muito tempo foi mais voltada ao rock gaúcho e ao regionalismo, daí a maior parte do que compõe a identidade musical brasileira, acontece longe, de são paulo pra cima. então, acho que se a gente não se identifica tanto com a cena local, acaba se sentindo mais seguro, mais confortável, escrevendo no quarto, de forma mais intimista.
RC – No seu single, você confessa que usa o auto-tune, porém, como ferramenta a serviço da arte, e não com intenção estritamente comercial de maquiar algo até que seja aceito pelo mercado. Na sua visão, a tecnologia cria o artista ou o artista cria a tecnologia?
NBNB – Sim! E isso é outra coisa que é meio incomum no Brasil né? Tirando funk e alguns outros estilos, é bem raro aqui o pessoal usar auto-tune e efeitos vocais como instrumento. eu cresci ouvindo esse uso no pop gringo, e sempre curti o efeito que criava em algumas situações. Tanto que quando eu uso, eu gosto de usar no MÁXIMO mesmo, que é pra mostrar que é um recurso proposital, não pra maquiar um canto ruim. Em algumas músicas eu gosto de usar, em outras, não. Nos próximos lançamentos vai dar pra sentir bem essa mistura! Sobre a pergunta (bem complexa!) entre tecnologia e artista, eu diria que ambos. A tecnologia cria o artista porque ela é parte do ferramental de instrumentos que ele tem a disposição, e a arte que se produz, depende do ferramental disponível. E o artista cria a tecnologia porque, quando ele não encontra alguma ferramenta que ele precisa, ele pode criar esse algo novo.
Veja o clipe de “Memento” do nobandnobrand:
E então, conta pra nós aí nos comentários o que achou da sonoridade do nobandnobrand!