[PREMIERE] Sliced Hearts Club Band

[PREMIERE] Sliced Hearts Club Band

Não queria, mas impossível não me lembrar do famoso meme com uma prova de ciências na escola:

Pergunta: Qual a função do coração?

– Resposta: Sofrer.

E é para fazer o coração sofrer mais um pouco, ou melhor, fatiá-lo, que vem a público o honesto trabalho do Sliced Hearts, projeto do cirurgião vascular mineiro Rafael Carvalho e ex-baixista condecorado da nossa querida Devise, mostrando que a medicina também tem sonoridade. E quem diria: uma sonoridade que, a saber pelo primeiro single “Even When I’m Losing” remete ao melhor estilo Americana, que tem como maiores ícones Whiskeytown e Uncle Tupelo.

(Foto: Míriam Cândido)

Nada mal para um trabalho de estreia: a depender da amostra do primeiro single do seu ex-baixista fundador, podemos comprovar o potencial da Devise para redistribuir talentos solo da música mineira, a exemplo do que aconteceu com o Câmera, que hoje tem ex-integrantes no MOONS e Young Lights. Não por acaso um dos convidados para a premiere do Sliced Hearts foi justamente Lulu Couto, frontman deviseano. No final do dia, tudo se resume a boas composições:

Quando eu compus essas músicas, eu não necessariamente estava pensando em gravá-las ou tocá-las em shows. Eu só precisava tocar e me reencontrar na música.

Rafael Carvalho

Excuse Me While I break my own heart (Foto: Míriam Cândido)

Sliced Hearts: imersão nos cenários bucólicos de Minas

Quatro anos após deixar o posto de baixista da Devise, Rafael Carvalho redescobriu sua música enquanto se inspirava pelas estradas do interior de Minas Gerais. Como um ritual de passagem, também resolveu gravar as composições que brotaram desse período de imersão com amigos no renomado Estúdio Ilha do Corvo, sob o nome de Sliced Hearts. 

Solitude Daydream

“Even when I’m losing” é a primeira faixa a ser lançada do EP “Solitude Daydream”, de 4 músicas, “entalhado entre as montanhas mineiras numa atmosfera melancólica“, como descreve Rafael, que destaca um time de pesos pesados como influência: Wilco, Neil Young, Whiskeytown,  Ryan Adams, Drive-By Truckers, The War on Drugs, Phoebe Bridgers, Bruce Springsteen e Tom Petty. É para fatiar o coração ou o quê?

How to Fight Loneliness (Foto: Míriam Cândido)

2 toques com Rafael Carvalho, o cara por trás da Sliced Hearts

RC – O primeiro single do Sliced remete ao estilo Americana, Alt-Country. Qual relação você encontrou entre os cenários mineiros e esse tipo de música que é tão enraizada na cultura americana? 

SH – Minas Gerais, para mim, tem várias semelhanças com o sul dos Estados Unidos, bem como suas cidades de interior. É um estado com grande atividade rural, tradicionalista, com rica história e herança colonial (boa e ruim!). Queira ou não, a música tradicional americana tem raízes sobretudo nesses estados, com influência de imigrantes e escravos, bem como nossa música tradicional. Histórias sobre o campo e a vida do trabalhador de lá também se repetem por aqui. É fácil se identificar. Cresci em uma pequena cidade do interior, São João del Rei, ao pé de duas grandes serras, andando no mato e indo a cavalgadas. Então acho que o clima bucólico, ora melancólico, do alt-country ou americana (que engloba música espiritual, blues, country, rock, folk), faz muito sentido por aqui também. 

RC – Sliced Hearts tem a pretensão de deixar de ser um projeto para se tornar uma banda algum dia, algo parecido com o Midnight Mooca? 

SH – Quando eu compus essas músicas, eu não necessariamente estava pensando em gravá-las ou tocá-las em shows. Eu só precisava tocar e me reencontrar na música. Peguei o que tinha em casa, na época um violão e uma gaita, e a coisa fluiu. O EP foi gravado durante o conturbado ano de 2020, sem muitas expectativas de tocá-lo em curto prazo, mas com certeza tenho planos para juntar novamente os amigos em um formato ao vivo. Até porque esse trabalho só tomou forma com a ajuda deles! Quem sabe “eu” não vira “nós”?

Confira o single de estreia do Sliced Hearts:

Ficha técnica

  • Violão, guitarra base, banjo, harmônica, lapsteel: Rafael Carvalho
  • Bateria: Bruno Bentes (Radiotape)
  • Percussão, Piano Elétrico e Teclado: Leonardo Marques (Diesel/Udora)
  • Guitarras: Luís Couto (Devise, Churrus), Rodrigo Costa
  • Backing Vocals: Letícia Bassi

Produzido, gravado, mixado e masterizado por Leonardo Marques no Estúdio Ilha do Corvo (Belo Horizonte – MG). 

E então, agora diz aí nos comentários pra nós o que você achou do single do Sliced Hearts!

Marcos Tadeu

Marcos Tadeu

Jornalista, idealizador e apresentador do Rock Cabeça na 100,9 FM, Rádio Inconfidência FM (MG) desde 2016. Acima de tudo, um fã de rock gringo.