[PREMIERE] Preto Karma: “a proposta da banda é ser honesta”.
Responda rápido: quantas músicas (realmente boas) você já ouviu que remetem diretamente à realidade de onde você mora? Não é preciso nem dar o play no primeiro single da Preto Karma: por sua ousadia lírica, o título “Nascido para morrer em Contagem” evoca – ao contrário do que pontifica a própria letra em um jogo de palavras genial – a coragem de compositores como Patti Smith, Bruce Springsteen, Joe Strummer e até mesmo o rapper Ice-T para descrever as agruras de seus locais de nascença em acordes simples, porém contundentes. “Sinto falta de canções com as quais eu possa me identificar pelas minhas vivências atuais, então nós resolvemos fazê- las“, afirma Léo Alves, baixista e vocalista do Preto Karma.
“Às vezes acho que me sobra tudo e só me falta coragem, acho que talvez eu nasci para morrer em Contagem”
“Nascido para morrer em Contagem” – Preto Karma
Formado em 2019, Preto Karma é o primeiro projeto do explosivo músico Léo Alves após sua conturbada saída da Evil Matchers, na qual dividia os vocais com Luiz “Gringo” Bueno em petardos como “Promessas Sujas“. Dessa vez, ele convidou o irmão, Daniel, para fazer guitarras e vocais na banda. Completam o Karma o Chanlucas Hsieh (Guitarra e vocal) e Klinger Soares (Bateria). A fórmula “dois irmãos em uma banda de rock” é reconhecida por seu potencial problemático, mas nesse caso, a química acaba sendo perfeita, como comprova a sintonia de vocais entre os dois (detalhe: enquanto na Evil Matchers canções em português duelavam com faixas em inglês, no Preto Karma a língua pátria domina).
2 toques com Léo Alves, frontman da Preto Karma
RC- Que eu me lembre, é muito raro alguma música de rock descrever exatamente a angústia de se viver em uma cidade da grande BH. Denunciar esse incômodo é parte da proposta da Preto Karma?
LA – Sim, é raro mesmo. Eu nunca ouvi uma canção dedicada exclusivamente a Contagem. Talvez a proximidade com BH acabe invisibilizando a cidade nesse aspecto. A proposta da banda é ser honesta. Na verdade, um tema que anda me atraindo muito como compositor é: “o que acontece quando você sobrevive aos sonhos do rock?” 75% da banda já passou dos 30 ( menos o Chan que tá na porta já), todos sempre tocamos desde a adolescência, mas ninguém fez fama, ficou rico, sabe? E se depender do rock nem vai ficar hahaha! A realidade foi ter que estudar, trabalhar… e tudo o mais que envolve o “crescer”! E o rock tradicionalmente é algo mais adolescente, o que é ótimo, quem tem essa chama da música dentro de si, preserva esses ímpetos para sempre, mas eu diria que a proposta da banda é passar a nossa experiência de vivência desse momento da nossas vidas, na nossa cidade, e não fingir que tenho 20 anos e estou em Nova York ou Londres nos anos 70 ou 80 por exemplo. O que também é divertido, mas sinto falta de canções com as quais eu possa me identificar pelas minhas vivências atuais, então nós resolvemos fazê- las.
RC- Na Evil Matchers, você dividia as decisões com outros 3 amigos. O que muda agora que divide a responsa com seu irmão?
LA – Continuo dividindo as decisões com outras 3 pessoas, e é super tranquilo. Na verdade é a banda mais tranquila nesse aspecto que eu já tive na vida! A diferença nesse quesito da minha experiência na Evil Matchers é que lá eu primeiro entrei na banda, depois uma relação de amizade surgiu. Conheci os caras da formação na época no dia de um ensaio, então era uma amizade baseada na banda. E musicalmente tínhamos uma ótima química e vivemos momentos e criamos coisas das quais me orgulho muito. Na Preto Karma eu conheço o Klinger desde a 3° série, o Chan tocou comigo na adolescência, e o meu irmão é meu melhor amigo e parceiro de música desde sempre, então no caso é uma banda baseada na amizade, o que torna a convivência muito tranquila e fácil, a amizade vai vir sempre em primeiro lugar em relação à banda, pois a banda é a materialização da nossa amizade. E tocar com o Daniel é um privilégio! Ele é um músico muito sólido, e uma pessoa maravilhosa. É o meu melhor amigo, e esteve me apoiando sempre fora dos palcos durante toda minha trajetória, e hoje ter ele lá comigo é uma alegria imensa.
Confira o primeiro single do Preto Karma, “Nascido para morrer em Contagem”:
Segundo explica a banda, o single de estreia “explora a relação com a cidade natal da banda, permeada pelo tédio, a afetividade e o desejo de fugir e permanecer, e como esses sentimentos refletem na relação do indivíduo consigo mesmo“. A faixa foi gravada e mixada no White Room Stúdio, por Felipe Franco e César Garcia (Tapetes Persas). Embora seja a qualidade da letra o principal atrativo da faixa que anuncia o Preto Karma, não podemos deixar de ressaltar a produção acertada que realça o punch dos riffs e nos faz ter aquela vontade de tirar a poeira da guitarra encostada atrás do armário. It’s only punk-rock, but we like it! Ah, ainda de acordo com a banda, vem muita coisa nova por aí ainda…. A Grande BH que se cuide…
Conta pra nós o que achou da sonoridade do Preto Karma aí nos comentários, vai….