Ryan Adams: vida pós-cancelamento em 10 canções
Muita gente pode contestar, mas, para mim, quanto mais tumultuada a vida de um artista, mais potencial para escrever belas canções. Acredito neste paradoxo e Ryan Adams, assim como muitos outros compositores maiores que a vida, como John Lennon e Kurt Cobain, não me deixam negar. Por isso o adiamento abrupto do lançamento de 3 álbuns em função do “cancelamento” de Ryan Adams me entristeceu, embora obviamente não concorde com a postura machista e abusadora do cara, denunciada por uma penca de mulheres, de Nina Persson (Cardigans) a Phoebe Bridgers (sua ex-parceira de turnê e de selo, à qual ele “surpreendeu” pelado em um quarto de hotel).
A verdade é que Ryan sempre foi um sujeito problemático, desde o período em que o alt-country estava na moda, quando ele integrava uma das melhores bandas que já existiu, o Whiskeytown. A mesma facilidade que tem para escrever belas canções, Ryan tem para arranjar confusão, seja com mulheres, jornalistas ou os próprios membros de sua banda. O resultado disso, é claro, impactou na sua carreira e vida pessoal, mas sua discografia segue cada vez maior, com alguns pontos baixos, porém extremamente qualificada. E tanto o recente “Wednesdays” quanto o anunciado “Big Colors” (um dos trabalhos adiados) apenas confirmam a excelência do músico-compositor – para a euforia dos “die-hard” fãs.
Como se não bastasse a prolífica discografia oficial, Ryan tem uma quantidade colossal de outtakes e gravações não oficiais rolando pela web. Então, um dos critérios para fazer a lista de 10 melhores canções foi me basear apenas nos discos realmente lançados. Não foi fácil deixar de fora alguns discos, porque praticamente todos trazem pelo menos uma faixa indispensável para se entender Ryan Adams, ao meu ver, um dos maiores e mais completos artistas de rock da atualidade.
Prontos para a lista? Então vamos lá:
10 – “Do not Disturb” – Big Colors
O primeiro single do esperadíssimo “Big Colors” antecipa que teremos um Ryan Adams ancorado em sons mais pop, oitentista.
9 – “When you cross over” – Wednesdays
Assim como “Ashes and Fire”, o recém-lançado “Wednesdays” é um álbum quase 100% acústico de Ryan, e “When you cross over” significa uma retomada ao lirismo de “Oh My Sweet Carolina”. Um Ryan arrependido que pede desculpas logo na primeira faixa do disco.
8 – “My Sweet Carolina” – Heartbreaker
Clássico incontestável, essa é uma das pérolas do álbum solo de estreia de Ryan Adams, o aclamado “Heartbreaker”. Faixa presente em 11 entre 10 setlists do cara, já foi interpretada por medalhões como Elton John.
7- “Elizabeth, you were born to play that part” – 29
“29” é um álbum curtinho, com cara de ep. Embora menos acessível que os demais, o disco tem seu charme, como essa longa balada, uma das mais belas já escritas por Ryan.
6 – “Off Broadway” – Easy Tiger
Com o fardo de ser um dos últimos discos antes de Ryan simplesmente surtar, “Easy Tiger” traz um rock correto, cheio de hits e participações. “Off Broadway” é uma espécie de crônica amorosa que se passa em Nova Iorque que é impossível de esquecer.
5 – “The hardest part” – Jacksonville City Nights
Considerado por muitos fãs o melhor disco de Ryan, “Jacksonville City Nights” é o que mais se aproxima dos tempos de Whiskeytown.
4- “The bar is a beautiful place” – Gold
“Gold” é o trabalho que fez com que Ryan explodisse mundo afora. Embora seja lotado de hits (“New york, New York”, “When The Stars Go Blue”), é nas bonus tracks que “Gold” conquista: “The bar is a beautiful place” é um das músicas mais bonitas já escritas.
3 – “Halloween” – Love is Hell
“Love is Hell” é o grande álbum renegado pela gravadora por não ser comercial o suficiente. A recusa serviu para aumentar ainda mais a aclamação deste trabalho, simplesmente um dos melhores da discografia de Ryan, enaltecido, inclusive, pelo diretor Cameron Crowe. Difícil escolher só uma faixa, mas “Halloween” é a que fala mais fundo nos eternos donos de corações quebrados por aí…
2 – “Crossed out Name” – Cardinology
Disco que passou batido na época em que foi lançado, acredito que seu potencial ainda será redescoberto por muitos. “Crossed out name”, por exemplo, é mais uma balada do mesmo naipe de “Oh my sweet Carolina” e outras.
1- “Starting to hurt” – Demolition
Espécie de continuação de “Gold”, “Demolition” talvez seja o mais subestimado álbum de Ryan. O que não impede o fato de que é dele um dos rocks mais empolgantes da carreira do músico, “Starting to Hurt”.
Bônus:
“Come pick me up” – Heartbreaker
“Come pick me up” surge no bônus desta lista porque ela já se tornou um tipo de hors-concours da discografia de Ryan, executada até hoje em praticamente todos os shows. Não tem como descrever a beleza de seus versos: “come pick me up, fuck me up, steal my records…..”
Sim, chegamos ao fim mas claramente esquecemos de outras dezenas de ótimas composições e discos de Ryan Adams. O que acham de uma nova lista? Comentem aí embaixo!