Taylor Swift: parte da indústria ou a própria indústria?

Taylor Swift: parte da indústria ou a própria indústria?

Ainda atônitos com o anúncio do José N. Flesch sobre uma perna da “The Eras Tour” no Brasil entre setembro/outubro, cerca de 3 anos após o cancelamento da “Lover Tour” no Brasil, o que acham de debruçarmos um pouco sobre a representatividade da Miss Americana para o mundo?

No atual cenário de completo “automatismo” da indústria musical, são raros os artistas que apresentam a habilidade de compor as suas próprias canções como Taylor Swift. Não por acaso, a compositora já foi chamada pelo renomado Billy Joel de “Beatles dessa geração”. E não é apenas Billy Joel que compartilha da opinião de que estamos falando aqui de uma das maiores compositoras da atualidade. A NMPA (Nacional Music Publisher’s Association) premiou a artista com a Songwriter Icon Award, maior honraria dos compositores. Taylor Swift também foi a mais jovem a figurar na lista de melhores compositores de todos os tempos pela revista Rolling Stones, que destaca a composição da canção “All Too Well”.

A própria trajetória de Taylor na música reforça o diferencial que ela tem como artista e o quão importante ela é para o seu meio. Da simples menina do interior que carregava na bagagem apenas sonhos até a mulher com uma das carreiras mais bem sucedidas da história, Swift sempre uniu o talento e a genialidade para fazer o seu nome. Em 2009, com seus 20 anos, se tornou a artista mais jovem da época a ganhar o prêmio de Álbum do Ano no Grammy com o álbum “Fearless”, que viria a se tornar o disco country mais premiado da história do estilo.

Em 2016, um ano em que Taylor decide se reinventar como artista ao fazer uma grande aposta com “1989”, T.S se tornou dona do álbum pop mais premiado de todos os tempos ao faturar 10 BBMAs (um deles pelo impacto da artista na indústria), 3 Grammys, 1 deles o cobiçado “Álbum do Ano”, 4 VMAs, 2 Guinness World Records e 1 EMMY.

Já no pandêmico 2020, impossibilitada de estar fisicamente próxima de seu público em função do cancelamento de datas da “Lover Tour”, Taylor Swift se ajustou à nova realidade para continuar nutrindo o seu sucesso – e seu lucro, é claro. De seu talento e genialidade, nasceram os conceituais “Folklore” e “Evermore”, sendo o primeiro listado por 11 críticas profissionais como o melhor disco de 2020, além de vencer a categoria de Álbum do Ano no Grammy Awards 2021, consolidando-se como o projeto mais aclamado nessa década.

E para se ter uma ideia da dimensão que Taylor Swift atingiu, o décimo e mais recente álbum de estúdio da cantora, “Midnights”, lançado em outubro do último ano, segue impactando as mais importantes paradas musicais do mundo. O single “Anti-Hero” (dirigido por ela, assim como “All Too Well” o que sinaliza uma promissora carreira de cineasta pela frente) permanece em primeiro lugar na Billboard Hot 100 pela 8ª semana e se torna a música de Taylor com a maior longevidade na principal parada musical dos Estados Unidos. Um sucesso gigantesco não apenas nos streamings, mas também nas vendas que já ultrapassam mais de 1.8 milhão de cópias vendidas no mercado americano (sim, ela revitalizou a indústria fonográfica no caminho). 

A visão estratégica de Taylor Swift para direcionar cada detalhe da sua carreira, não só a qualidade musical, mas o marketing, redes sociais e as vendas, faz dela a indústria em si e não apenas parte dela. De tabela, há a troca positiva com o público, os “Swifties”, o que a impulsiona a criar cada vez mais e a se jogar de cabeça em cada um de seus projetos – é conhecido o seu hábito de criar enigmas e “easter eggs” para desafiar seus fãs.

Os altos números de reprodução nas plataformas de streaming, recordes de prêmios e indicações, e posições em rankings mundiais são a recompensa de um trabalho tão elaborado, minucioso e feito com paixão. Amor pelo que faz e visão estratégica para os negócios. Essa é a fórmula que faz de Taylor Swift uma das maiores artistas da história, ou melhor, a perfeita representação da indústria em si. 

Taylor Swift: Era por Era

Hoje em dia não há quem não conheça Taylor Swift. Mesmo que você não a reconheça diretamente pelo nome, com certeza já ouviu algum de seus hits de sucesso tocando em algum lugar, afinal de contas o seu poder na indústria tem um alcance global e todos os seus lançamentos debutam no topo das paradas em escalas mundiais. Seus feitos na composição, nos vocais, em performances, na atuação e na direção de imagens a fazem uma artista completa e que vem impactando as mídias de maneira avassaladora. Não apenas os seus fãs são atingidos pelo efeito Swift, mas também as pessoas que estão de fora dessa bolha acabam tendo o contato com as obras de Taylor, o que nos leva a pergunta que iniciou este post: Taylor Swift é parte da indústria ou é a indústria em si?

Com uma carreira de 15 anos, repleta de honrarias, canções que não saem da cabeça e o legado que deixa na história da música, com muito trabalho, Taylor se consagrou como uma das artistas mais relevantes do século. E para entender melhor a ascensão da miss americana, que se deu ao longo dos anos, podemos voltar no tempo para analisar a sua trajetória, a sua versatilidade musical e artística, seus altos e baixos na carreira e a luta pela a sua arte.

Debut Album

Um dos traços mais marcantes da carreira de Taylor é a versatilidade que ela assumiu ao longo desses 15 anos na indústria, principalmente no que diz respeito aos gêneros musicais pelos quais estiveram presentes na sua trajetória. Cada um de seus 10 álbuns lançados são muito bem caracterizados por suas eras, sendo todas elas bem divergentes mas sem perder a essência da artista. Swift carrega em suas obras suas experiências pessoais, decepções e sucessos  amorosos, metáforas sobre seus sentimentos e também criatividade para o desenvolvimento de cenários e até mesmo personagens.

Em 2006, ao assinar o contrato com a gravadora Big Machine Records, Taylor dá o pontapé inicial na sua carreira com o lançamento de seu primeiro álbum, que leva o mesmo nome da artista, e o seu gênero musical era inteiramente country. Aos 15 anos de idade, quando deixou a sua cidade natal para morar em Nashville, a capital americana do estilo, a sua intenção era ser uma artista expressivamente reconhecida por esse tipo de música. A estética de uma adolescente que foi um busca de seu sonho com seus cabelos cacheados, botas de cowboy e seu violão marcaram a era que estreou Swift no primeiro lugar nas paradas country ao lado de grandes artistas do meio.

Fearless

O segundo álbum de Taylor Swift, intitulado Fearless, foi lançado em 2009 e os singles You Belong With Me e Love Story a deram o primeiro vislumbre do seu sucesso mundial. Com esse trabalho recebeu destaque em importantes premiações da indústria musical, e inclusive não só marcou presença no Grammy daquele ano, mas faturou o prêmio de Melhor Álbum Country e Álbum do Ano, a categoria mais importante da noite, sendo a artista mais jovem com esse feito. O visual dessa era se assemelha bastante com a de seu primeiro disco que se tornou um símbolo dos seus primeiros passos na música.

Speak Now

Aproveitando a visibilidade internacional, e para provar  ao mundo a sua capacidade como compositora, em 2010, Swift lançou o Speak Now, seu terceiro álbum de estúdio, cuja divulgação é marcada por uma turnê bastante teatral. A própria Taylor definiu os seus shows como o seu próprio espetáculo criado para os seus fãs e foi nessa era que surgiu algumas das suas maiores marcas no visual: o batom vermelho que se tornou um clássico, letras de música escritas em seu braço e o seu número da sorte (13) desenhado na mão. A série de 110 shows ao redor do mundo acumulou mais de 123 milhões de dólares e tornou-se a terceira turnê mais bem-sucedida da história por um artista country. Nas paradas, Speak Now foi o primeiro álbum de Taylor a estrear no topo da Billboard 200 com mais de um milhão de unidades vendidas.

Red

Em 2012, foi lançado o álbum Red, que é um marco na carreira de Taylor pois é nessa época que ela inicia a sua transição para o gênero pop. É um álbum que ainda carrega uma grande presença do estilo country, mas este já não era mais tão homogêneo na composição do disco. Singles como I Knew You Were Trouble, 22, Everything Has Changed (featuring Ed Sheeran) e We Are Never Getting Back Together são característicos dessa mudança de rumo que Swift tomou em sua carreira. Nessa era, até mesmo os cabelos cacheados saíram de cena para dar lugar aos fios lisos e ao corte com franjas. O sucesso do álbum foi ainda mais grandioso, sendo até mesmo indicado ao Grammy na categoria de Álbum do Ano, e apesar de ter chances reais de levar o gramofone mais importante da noite, o álbum Red não foi escolhido pela Academia como o vencedor. Mas isso não fez com que Taylor abaixasse a cabeça pois logo os fãs e o mundo viriam a conhecer uma nova versão da artista que dominaria o mundo pop.

1989

A próxima era da carreira de Taylor Swift trouxe o novo estilo adotado com tudo e o álbum 1989, lançado em out-2014, foi um grande divisor de águas, pois traz uma sonoridade totalmente diferente daquela que Taylor havia trabalhado antes. As músicas eram mais eletrônicas e modernas, o que eu chamaria de baladas românticas, e combinavam com a nova estética de popstar adotada para esta nova era que se baseava no glamour. Os hits Shake It Off e Blank Space, assim como várias outras faixas do álbum, entraram para o topo das paradas de toda a indústria musical. O disco debutou com 1.3M de cópias na primeira semana, gerou 3 hits #1 na Billboard Hot 100 e foi eleito como o Álbum do Ano pelo Grammy Awards. As letras das músicas compostas por T.S estavam na ponta da língua de quase todo mundo. Foi neste momento que Taylor se tornou a maior artista do momento e o centro de todas as atenções na mídia, o que foi bom para o crescimento na sua carreira, mas ruim para a sua vida pessoal.

Reputation

A era seguinte é uma das mais grandiosas, pois marca um dos maiores comebacks da história da música e segundo a própria artista, trata-se do nascimento de uma nova Taylor após a morte de sua reputação. Após o lançamento de 1989, Swift enfrentou um longo e cruel cancelamento na internet o que a levou a desaparecer da mídia e se isolar por aproximadamente um ano. Em 2017, ela se reinventa com o álbum Reputation que traz uma Taylor que não se esconde mais, não se acovarda e não tem medo de jogar shades e responder os ataques sofridos. Neste álbum a sonoridade ainda é bem pop e não se difere tanto do disco lançado anteriormente pela artista. O visual da era algo mais dark e com caráter vingativo, que mostraram ao mundo uma artista que seguiu quebrando recordes principalmente com a turnê mundial de divulgação do álbum. A Reputation Stadium Tour, grandiosa em todos os sentidos, com apenas 53 shows em países da América do Norte, Europa, Ásia e Oceania, se consagrou como a turnê feminina mais rentável da década e a segunda maior turnê feminina de todos os tempos.

Lover

Não é novidade o fato de que Taylor Swift sempre compôs as suas músicas tendo como base os seus sentimentos e experiências de tudo que já viveu e que estava vivendo. No ano de 2019 os ares mudam, a leveza de um amor puro e genuíno toma conta e é nessa névoa de coisas boas que nasce o álbum Lover que como o próprio nome já sugere, é cheio de amor, cores e paixão. Taylor vivia um momento de muito romance quando conheceu o seu grande amor e atual parceiro, Joe Alwyn, e queria transmitir esse sentimento de leveza nas suas canções. Além disso, um dos principais significados deste álbum é a libertação de todo o ódio e sede por vingança que Swift sentia por todos que a fizeram mal ao longo dos últimos anos. Neste trabalho, assim como nos seus três álbuns anteriores, o pop prevalece e as letras seguem cada vez mais maduras em versos que tocam os seus ouvintes.

Folklore + Evermore

No ano de 2020 o mundo foi atingido pela pandemia e o isolamento se tornou uma necessidade para a segurança das pessoas. Um período extremamente difícil para todos e com os artistas não foi diferente, já que o público é o combustível que move os seus trabalhos. Nesse período de reclusão, Taylor Swift se aventura mais uma vez pelos gêneros musicais e, surpreendendo a todos, lança no mesmo ano os álbuns Folklore e Evermore, com canções alternativas, de folk com certos traços do country presentes, que vieram a evidenciá-la mais uma vez como uma grande compositora. Muitas das canções trazem histórias e narrativas de personagens que foram criados pela própria Taylor em seu processo criativo.

Não à toa, os álbuns foram altamente premiados e reconhecidos mundialmente como uma obra prima, principalmente Folklore, eleito Álbum do Ano pelo Grammy Awards e que revelou para o mundo mais uma das facetas de Swift como artista e que confirma todo o seu talento.

Midnights

Mais recentemente, em agosto de 2022, Taylor Swift surpreendeu o mundo com o anúncio do lançamento do seu décimo álbum de estúdio que recebeu o nome Midnights. Por estar envolvida nas regravações de seus antigos álbuns, ninguém esperava pelo anúncio de um disco inédito, mas talento é o que não falta, assim como as inspirações foram de sobra para a criação de um novo projeto. Neste álbum, Taylor, ainda mais madura, traz reflexões que teve em noites de insônia ao longo de sua vida e que, mais uma vez, traz relatos sobre suas experiências com relacionamentos passados, conflitos consigo mesma, autorreflexão e momentos de vulnerabilidade. As canções carregam uma gama de emoções bem diversa e a sonoridade tem traços alternativos e experimentais, apesar da predominância pop. Desde o seu lançamento, Midnights vem quebrando uma série de recordes em relação aos streamings e às vendas físicas e digitais do disco.

TS x Scooter Braun

Atualmente, Taylor é uma das artistas mais ouvidas do mundo, principalmente nos streamings como o Spotify. Neste, inclusive, se tornou a artista nº1 com mais ouvintes mensais na plataforma, e o número que chega a mais de 81 milhões, não para de crescer após o lançamento de Midnights. O mais novo álbum da artista vem quebrando recordes atrás de recordes como o de artista mais ouvida em um único dia no serviço de áudio, somando mais de 184 milhões de reproduções. Além disso, na Billboard, Taylor se tornou a primeira artista a ocupar todo o Top 10 na Billboard Hot 100. Anti-Hero, principal sucesso do álbum, permaneceu em primeiro lugar na lista da revista e do Spotify.

Ao longo da carreira, Taylor já se mostrou bastante alinhada aos direitos da arte que produz. Como já citado anteriormente, o seu trabalho carrega a história de sua vida, com diversos capítulos diferentes e repletos de uma pessoalidade em cada uma das letras de suas canções que tem um significado muito grande para ela como pessoa e artista, o que faz de Taylor uma mulher extremamente dedicada à defesa de tudo aquilo que já produziu.

Foi no ano de 2019 que viveu uma das suas maiores preocupações na sua carreira, em que quase teve tomada de si todas as suas obras já lançadas. A empresa Ithaca Holdings, do domínio de Scooter Braun, produtor e empresário com a qual Taylor possui inimizade, comprou a gravadora Big Machine Records, onde Swift gravou seus seis primeiros álbuns, desde Taylor Swift (2006) a Reputation (2017).

Ao tomar conhecimento do ocorrido, sua equipe buscou comprar novamente a discografia, mas a condição para tal ato era o seu silêncio em relação ao homem que Taylor mais desprezava e que mais a fazia se sentir mal. Em face a diversos acontecimentos, como a proibição de cantar as suas próprias músicas antigas em uma premiação onde receberia a honraria de Artista da Década, Taylor decidiu regravar todos os álbuns sob a posse da Big Machine para que pudesse ser a dona de sua própria arte construída por ela e todos os seus colaboradores. Duas regravações já foram relançadas até então: Fearless (Taylor’s Version) e Red (Taylor’s Version) e os fãs acreditam que a nova versão de Speak Now em breve também estará entre nós.

As regravações têm sido um tremendo sucesso e dignas de novas premiações, mesmo se tratando de composições já lançadas há 10 anos ou mais. Inclusive a regravação de Red rendeu à Taylor mais uma indicação ao Grammy, desta vez na edição de 2022, e a faixa All Too Well, queridinha dos Swifties, ganhou a tão esperada versão com 10 minutos de duração, com direito a um curta-metragem estrelado pelos atores Sadie Sink e Dylan O’Brien. E neste trabalho Taylor Swift simplesmente produziu, dirigiu, escreveu e estrelou a versão de uma das suas composições mais íntimas e tocantes, que vêm recebendo o prestígio das mais importantes premiações.

Confira a mais recente aparição de Taylor Swift nos palcos:

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Ana Luiza Pereira

Ana Luiza Pereira

Jornalista em formação pela PUC Minas. Apaixonada pelo universo dos esportes e da cultura pop, mas que também adora um bom rock n’ roll. Trabalha principalmente com o futebol, mas nas horas vagas adora se jogar e se aventurar no mundo da música, dos filmes, livros e séries de TV.