Um carnaval para Ninar
– “Sou de Belo Horizonte, você sabia?”
Assim Nina Maia, a cantora/compositora revelação de 2024 me surpreende justo no final da nossa entrevista via Google Meet. “Mudei para São Paulo com 2 anos, meu pai era guitarrista do Dead Fish e a banda se estabeleceu na cidade. Moro em São Paulo mas meu coração é mineiro“, revela Nina com uma voz doce, paradoxalmente grave, e um jeito tímido que aos poucos vai ficando para trás em função de tanta coisa para contar – e que ela se delicia em contar.
O pai de Nina, no caso, é o músico Phil Fargnoli, hoje no CPM 22, e embora tenha influenciado Nina em termos de “ambientação” com a música (hoje com 20, ela aprendeu a tocar com 12 anos violão e piano – “quando eu era nova”, ela salienta), nunca a impôs gostar desta ou daquela banda. Tanto que, no quesito rock ela elenca PJ Harvey como uma de suas artistas favoritas, além da pirada Courtney Love (“sabe aquela banda que ela tinha, Hole?”, ela carinhosamente explica, como se já não me doesse o suficiente o auge dos meus 44 anos e a saudade do grunge).
Para emendar a linha de paradoxos ninísticos, em poucas horas a romântica Nina se transforma em foliã na tradicional Ipiranga com São João, no centro de Sampa. Ao lado de nomes como Tássia Reis e Assucena, a cantora sobe ao trio elétrico para participar do bloco “taradonivocê”. Apesar da experiência, que ela diz amar, Nina não é o que podemos chamar de carnavalesca: “viajo no dia seguinte“, ela conta, esperando descansar da rotina apressada de compromissos.
Chancelada pela Seloki, ao lado de gente como Luiza Pereira (MADRE), Nina diz que seu novo álbum está praticamente pronto para ser lançado ainda este ano, após a divulgação de alguns singles do trabalho. A demora, segundo ela, tem a ver com o aprendizado dela própria em relação ao tipo de música que ela gostaria de fazer nesta etapa da vida. Para essa artista que frequentemente recebe comparações com Marisa Monte, Gal Costa e até Billie Eilish, a conclusão do álbum é um sonho: “é um marco, eu sempre quis me entregar para o mundo através de um disco solo, é como se eu dissesse “toma“”, reflete.
Apesar da agenda corrida que se divide entre outras artes, como cinema – Nina já fez trilha sonora de curtas e longas, e agora está em compasso de espera para o lançamento de outro filme com a sua sonoridade – e até dança, Nina, como boa mineira, encontra tempo para uma prosa calma sobre música, inegavelmente sua maior paixão. Ela revela que a sensual letra de “Sua”, apesar de ter partido de uma experiência própria, não é sobre ninguém em específico.
Quero esquecer o seu beijo
Que me fincou pelas costas
Que me lambeu de desejo
Cru, sem carinho e sem prosa
“Sua” – Nina Maia
Aqui, o que vale é o “eu-lírico” da cantora, enquanto, no vídeo-clipe, ela transforma toda a carga dramática da canção em um trailer de Almodovar, cineasta que, por sinal, ela ama: “estava pensando em Chico Buarque quando escrevi esta música“, afirma, longe de ser mais uma seguidora de Taylor Swift e sua mania de se vingar de ex-namorados a cada refrão. “Respeito a trajetória dela como a mulher que é, tantos prêmios que já ganhou, mas não é a minha praia“, finaliza Nina, bem confortável no centro do seu mundo.