What the FUNK is your problem?
Na coluna de hoje, vamos entender a relação da moda da quebrada com as grandes marcas de luxo e a influência da moda funk na cultura brasileira, e o porquê de tanto preconceito com esse gênero musical. Não custa destacar que esta semana ficamos sabendo da parceria inusitada entre um dos ícones do gênero no país, Anitta, com a baixista fundadora da banda de rock italiana Maneskin, Victoria.
O funk menciona marcas de moda de grife em suas letras há bastante tempo. Um exemplo é a popularização do modelo de óculos Juliet da Oakley no Brasil, que ganhou destaque a partir do funk “Bonde da Juju” em 2008. Os óculos são uma das grandes tendências surgidas nas quebradas, assim como os tênis Mizuno e as camisas de time usadas casualmente. A moda funk nasceu junto com o gênero musical e tem um grande impacto no estilo brasileiro.
O surgimento do funk no Brasil, nos anos finais do século 20, coincidiu com um período de transformações sociais e econômicas, especialmente entre os jovens do Rio de Janeiro. Inicialmente, o movimento foi marcado pela expressão de temas como desigualdade, violência urbana e o cotidiano das comunidades periféricas. Com o tempo, ganhou novas vertentes, como o funk ostentação, que surgiu em São Paulo no início dos anos 2000, que se destaca pela exaltação do luxo, do consumo ostensivo e da ascensão social.
Essa vertente do funk não apenas falava sobre superação financeira, mas também mencionava frequentemente marcas de luxo como Tommy Hilfiger, Adidas, Lacoste, Eckō Unlimited e Oakley, que se tornaram símbolos de status entre os funkeiros. O reconhecimento dessas grandes marcas dentro do movimento funk simboliza uma subcultura que reverte os valores tradicionais. Historicamente, a moda de luxo tem sido uma ferramenta para diferenciar classes sociais. Contudo, quando a periferia se apropria dessas marcas de luxo e as ostenta com orgulho, ela transforma esses símbolos de opressão na construção de sua própria identidade e resistência.
Muitas marcas perceberam a repercussão do funk ostentação e cederam espaço para funkeiros do país. A grife francesa Lacoste aposta em parcerias com cantores de funk famosos, como MC Kevinho e Livinho, incluindo campanhas publicitárias. MC Hariel participou de uma colaboração de aniversário da marca neste ano, uma coleção de 21 peças de roupa exclusivas – incluindo camisas, tênis, boné, conjunto de frio, shorts e cuecas, selecionadas a dedo pelo artista, que é o embaixador da grife no Brasil.
A música, ao longo de toda a história, influenciou comportamentos culturais e sociais, e com o funk isso não foi diferente. A relevância do movimento dita tendências e tem um poder de influência massivo entre aqueles que curtem o som, dentro e fora da periferia. O “Brazil Core”, por exemplo, juntamente com o estilo Mandrake, foram inspirados no estilo dos bailes funk e são tendências nas redes sociais entre os mais diversos públicos.
Apesar do impacto e relevância social do movimento, seja na música ou na moda, muitos artistas são ignorados pelo mainstream. A discriminação e o racismo estrutural da sociedade brasileira são catalisadores do preconceito com o funk e o que ele representa. Muitas vezes, as manifestações estéticas só são valorizadas quando saem da bolha da periferia e chegam às mãos dos privilegiados, ou quando finalmente recebem o reconhecimento de algumas marcas de luxo.
O funk faz parte do DNA do Brasil e sua influência na moda é muito maior do que a associação com grandes grifes. É uma forma de identificação, pertencimento e celebração da cultura periférica.
Este foi o quadro Moda e Música, comigo, Alice Horta falando sobre a importância do funk para a cultura. A gente volta em um próximo Rock Cabeça com muito mais temas legais e importantes dentro do universo musical.