Young Lights e o peso da juventude
Em 2017, podemos dizer que tivemos pelo menos 2 álbuns que conseguiram retratar, como nenhum outro, a dor e a beleza de ser um “macho” romântico e sensível em plena era do Tinder. Estou me referindo a “Prisoner” de Ryan Adams e “Young Lights” dos mineiros da Young Lights. Não por acaso, a banda elenca Ryan Adams como uma de suas principais influências.
No entanto, enquanto “Prisoner” é pura descrição, “Young Lights” é sensação do início ao fim. São sentimentos de dor, frustração e amor não correspondido que transformam a rápida audição de 31 minutos das 8 músicas (+ 1 bônus na versão física) em uma experiência emocional contundente.
E não se engane pela semelhança do timbre entre Jay e Chris Martin (Coldplay). Os vocais pungentes do americano mais mineiro que já conheci nos pegam pelo braço e arremessam para um universo bastante peculiar, o universo da dificuldade de empatia diante da impessoalidade que engole as relações, sejam elas quais forem.
Chasing ghosts
“Moving on, Moving Forward“. Em “Chasing Ghosts”, Young Lights retoma a atmosfera etérea do Radiohead ao alertar o ouvinte sobre a necessidade de seguir em frente, deixando para trás pessoas que um dia foram importantes em sua vida.
Understand, man
A canção mais sensual do álbum é também o grande hit deste trabalho. Contando com um vídeo tão genuíno quanto corajoso, o destaque de “Understand, man” são as guitarras de Vítor Ávila (o famoso “Boss”) que cortam a voz embargada de Jay, aproximando a banda da sonoridade de Ryan Adams. A faixa é um claro aviso de que a banda está unida e mais coesa do que nunca.
Fast heart
Contando com a participação especialíssima de Gustavo Bertoni (Scalene, a banda do momento), Fast heart é a tentativa da Young Lights de encontrar seu espaço no mainstream, remontando aos melhores momentos do Coldplay era “A Rush blood through the head”.
Old and Gray
Com um marcante coro na introdução, em Old and Gray é uma pequena demonstração dos caminhos que a Young Lights está por percorrer. A bateria marcial de Gentil Nascimento rege com perfeição os vocais dolorosos de Jay, fazendo com que a faixa consolide o que podemos chamar de “sonoridade” da Young Lights.
Strangely intimate
O que dizer da canção que tem o título mais lindo já concebido na história do rock? Aqui, a Young Lights experimenta o teclado, demonstrando que não se limita a sons de instrumentos ordinários ligados ao alt-country. E Jay, em particular, solta-se mais do que o normal, mostrando como está à vontade para exorcizar seus próprios demônios.
Eyes Closed
A propositalmente arrastada “Eyes Closed” funciona como uma espécie de anti-clímax do álbum. “You told me not to worry no more”. É uma letra que fala de uma esperança falsa, quase tola, mas extremamente necessária para conseguirmos seguir em frente.
Love, you let go
Amor e otimismo – na medida do possível – unidos de uma forma como nunca antes experimentada em um trabalho da Young Lights. “Love, you let go” exala tanta personalidade que poderia tranquilamente fazer parte da trilha sonora de algum filme de Cameron Crowe.
Singing bird (in a cage)
A singela “Singing bird (in a cage)” é uma versão peculiar de “Talihina Sky” do Kings of Leon, encerrando o álbum com uma alegria boba e triste que entra num crescendo, assim como o dedilhado que aos poucos ganha o acompanhamento de toda a banda.
Produzido pelo onipresente Leonardo Marques, na Ilha do Corvo, e lançado pelo selo Quente,”Young Lights” é desde já a certidão de nascimento daquela que já é uma das maiores bandas brasileiras desta década. Understand, man.
Confira a entrevista da Young Lights no Rock Cabeça da Inconfidência, 100,9 FM:
Veja o incrível vídeo de Understand, man, do novo disco da Young Lights
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